Antônio Mendes deixa carta aos içarenses

Amigos de Antônio Mendes se despedem mais uma vez do padre nesta quarta-feira, dia 6. O ex-pároco de Içara deixou a cidade para seguir à Florianópolis. E na Capital, ainda pegará o voo em direção a Cristalândia (TO). São 2,4 mil quilômetros até o destino. A missão construída pelo projeto Diocese Irmã será na Paróquia Santo Antônio, em Dueré. A posse está marcada já para este próximo domingo.

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Na noite de terça-feira Antônio Mendes também reuniu amigos na cripta da igreja matriz. A homília teve a participação do bispo Dom Jacinto Inácio Flach, além do novo titular da Paróquia São Donato, Antônio Vander. O padre recebeu uma aliança marcada por uma cruz e deixou uma carta aos amigos. O conteúdo consta logo abaixo:

Acredito que muitos de vocês demoraram para compreender e alguns ainda não compreenderam o que fiz quando coloquei meu nome à disposição do bispo Dom Jacinto para ir em missão. A verdade é que nem eu mesmo sabia o que se passava dentro de mim. Desde o momento que tomei consciência do chamado até o momento que procurei Dom Jacinto para dar meu sim, muitas coisas se passaram em meu coração. Fiquei muito angustiado com a ideia de me separar de vocês. Enquanto relutava em dar a resposta, que já ressoava em meu coração, lembrei-me de duas passagens bíblicas que muitas vezes rezei: Aquela em que Jesus diz que quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus (Lc 9,62) e a do jovem rico que voltou para casa triste, porque não conseguiu se desapegar dos bens para seguir Jesus (Mt 19,16-23).

Ficar olhando para trás (Lc 9,62): Entendi que não podia ficar mais relutando porque meu sim já foi dado na ordenação sacerdotal. Sempre estive à disposição da Igreja em tudo que me pediu na pessoa dos bispos: do seminário para Meleiro, de Meleiro para Timbé do Sul, de Timbé do Sul para a coordenação diocesana de pastoral; depois vim para a Paróquia São Donato, etc. No começo, tudo me parecia difícil e assustador, mas enfrentando meus medos e inseguranças para tudo e para todos dei o meu sim incondicional. Nunca fiz minhas vontades, nunca relutei ou recusei algo que estivesse ao meu alcance. Não seria agora que iria me negar, embora fosse muito penoso para mim. Negar-me ir para a missão por qualquer motivo, seria ficar olhando para trás com as mãos no arado.

Deixar as riquezas (Mt 19,16-23): Nunca tive dificuldade em passar para outros algumas coisas que precisavam porque Deus nunca deixou faltar nada para mim. Comecei a fazer um inventário das minhas coisas: roupas, coisas de uso pessoal, computador, bicicleta que só andei três vezes, algumas economias, etc. Desfiz-me dessas coisas sem a menor dificuldade. De repente, me dei conta que a minha maior riqueza eram vocês, meus amigos e irmãos. Deixar vocês é o desapego mais difícil. Comecei a recordar tudo que vivemos: as alegrias e tristezas, a cumplicidade, a fidelidade. Realizamos coisas planejadas; outras vezes fomos imprevisíveis. Mas sempre tivemos sucesso, porque pudemos contar um com o outro. Braços abertos e sorrisos escancarados.

Em nenhum lugar encontrarei pessoas iguais a vocês. Farei outras amizades, certamente, mas não substituirão vocês. Só que eu não venderei vocês e nem darei aos pobres, deixarei vocês com Aquele que me deu vocês: Jesus Cristo. Nas mãos Dele, vocês ficarão bem guardados e assim poderei procurá-los quando sentir saudades. Estaremos sempre juntos na oração, na evangelização e na missão! Amo muito cada um de vocês!