Cotidiano | 07/01/2013 | 07:56
Captações deixam de ser realizadas
Especial de Amanda Tesman, do Jornal da Manhã
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Quase 200 transplantes de córneas deixaram de ser realizados na Região Carbonífera em pouco mais de dois anos. Os dados divulgados pelo Instituto Médico Legal (IML) de Criciúma apontam a carência do Sul do Estado: a ausência de um local adequado para efetivar as captações. Há muito se discute sobre a implantação do Banco de Olhos de Criciúma, porém, ao que parece, a ideia está longe de sair do papel.
Enquanto o sonho antigo não transforma em realidade, potenciais doadores estão sendo perdidos. Até agosto de 2010, de acordo com o técnico do IML, Almir Fernandes, as captações estavam sendo feitas na cidade. Porém, a falta de estrutura e meios adequados para o transporte da córnea fizeram parar o serviço. “Não tínhamos um espaço adequado para a manipulação e o preparo da córnea. O transporte também não era feito de forma apropriada, enviávamos as córneas por meio de transporte de ônibus. Isso fazia com que nós perdêssemos muitas córneas. As famílias estavam doando, mas, às vezes, o transplante não estava sendo realizado”, enfatiza Fernandes.
Por causa dos problemas enfrentados e em respeito às famílias dos doadores, o procedimento parou de ser feito no segundo semestre de 2010. De janeiro a agosto do referido ano, 52 transplantes foram efetivados. “Sendo considerado recorde no Estado naquele período”, ressalta o técnico. Após este período, o número de perdas vem aumentando consideravelmente. De setembro a dezembro de 2010, 22 transplantes deixaram de ser realizados. Em 2011 foram 76 transplantes perdidos. Já em 2012 foram 84 perdas. Somados, 182 transplantes não foram concretizados.
“Aguardamos a definição para a instalação do Banco de Olhos de Criciúma para aumentar o índice de captações, beneficiando, assim, pacientes da fila de espera para transplantes de córneas na região Sul e no Estado”, pontua Fernandes.
Há 18 anos, Hélio Bianchini, de 42 anos, passou pelo transplante de córneas. “Se eu não tivesse recebido as córneas, hoje eu estaria cego”, diz. Ele foi surpreendido pela doença chamada ceratocone, que causa a perda da visão, levando à cegueira. A doença fez Bianchini ficar com apenas 40% da visão. Para não ficar cego, ele teve que passar pelo procedimento. “Na época, quando falaram do transplante, levei um susto grande, pois não se falava muito nisso. Passei muita dificuldade, pois eu fazia faculdade e não enxergava direito. Isso atrapalhava nos estudos”, comenta, acrescentando que teve rejeição e passou outras duas vezes pelo transplante.
Com o transplante, a chance de ficar cego foi eliminada, pois fez com que a doença se estabilizasse. “Hoje minha visão é de 60% sem lente de contato e 80% com a lente”, frisa Bianchini. O fato de não ter Banco de Olhos na região é lamentado por ele. “Na época, Criciúma fazia muitas captações. Era o que mais funcionava no Estado. Hoje foi deixado de lado”, observa.
O local para o funcionamento do Banco de Olhos já foi definido. Ele estará localizado no Hospital Materno-Infantil Santa Catarina. Porém, segundo Fernandes, para começar a funcionar, um dos itens que falta é o credenciamento. “Que virá da parceria do Governo do Estado, por meio da SC-Transplantes, Governo do Município e Hospital São José. O acordo e o local para o funcionamento do BOC, no Hospital Infantil Santa Catarina, já foram definidos no fim do ano passado”, ressalta.
O secretário-adjunto de Saúde do Estado, Acélio Casagrande, informa que o assunto deverá entrar em pauta ainda neste primeiro semestre. “Vamos tentar viabilizar a implantação do Banco de Olhos”, comenta. O valor para equipar e deixar pronto para o funcionamento, de acordo com ele, gira em torno de R$ 250 mil.
Conforme o secretário, o Banco de Olhos é importante, pois não irá beneficiar somente a Região Carbonífera, mas também os municípios que compõem a Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense (Amesc) e Associação dos Municípios da Região de Laguna (Amurel).
Autorizar a doação de órgãos é um ato de bondade, piedade, compaixão e solidariedade. “Quem está doando não vai precisar mais dos órgãos, pois não está mais entre nós. Graças a um doador, hoje estou enxergando”, sublinha Bianchini. Para ser doador, basta comunicar à família da sua vontade. A captação dos órgãos só acontece com a autorização dos familiares do doador.
Muitos mitos giram em torno do assunto. Algumas pessoas pensam que o corpo será deformado com a doação, o que não ocorre na realidade. A cirurgia para a retirada é como outra qualquer, e o corpo é entregue à família normalmente para o velório e enterro. “No caso das córneas, as vezes as pessoas acham que será retirado o olho inteiro, mas na verdade é só uma pele”, comenta o transplantado. Após passar pelo procedimento, Bianchini começou a ministrar palestras e distribuir panfletos informativos sobre o assunto.
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