Cotidiano | 07/08/2012 | 15:19
Casal completa 60 anos de união
Especial de João Henrique Brandão, do Jornal do Rincão
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Respeito, cumplicidade e amor. Ingredientes que quase sempre estão presentes em um relacionamento duradouro. Mas, para chegar a 60 anos de casamento é preciso muito mais que isso. E quem conhece o casal Rolf Jacób Engel e Teresinha dos Santos Engel sabe que entre eles tem algo especial, algo único, que não se pode descrever com palavras.
Eles se conheceram na década de 50, em uma cidadezinha do Rio Grande do Sul, Cachoeira do Sul. Rolf acabara de cumprir o seu dever no exército e Teresinha estava em plena adolescência, com 15 anos. O primeiro encontro aconteceu em um dia normal e por acaso, mas ficou marcado para sempre e, cada detalhe lembrado pelos dois, mostra o quão profundo foi.
“Naquela época só podia sair de gravata. Ela morava ao lado da minha casa. O primeiro encontro aconteceu quando ela passou por mim e, ao ver minha gravata torta, veio arrumar”, lembra Rolf. “Quando o vi pensei em falar alguma coisa sobre a sua gravata, mas enquanto eu a arrumava não consegui falar nada”, conta Teresinha. E foi assim que os dois descobriram o amor e depois desse encontro já sabiam que ficariam juntos para sempre.
Mas como todo romance, o casal nunca fica junto sem que algo surja entre eles: o pai de Teresinha. “A primeira vez que meu pai nos viu conversando já foi logo contra. Mesmo assim continuávamos a nos encontrar, mas escondidos. E ficou assim por uns 2 meses”, conta Teresinha. Mas o segredo não durou por muito tempo e logo o futuro sogro foi tirar satisfação de Rolf. “Eu trabalhava a noite e como ele me via sem fazer nada durante o dia, me chamava de vagabundo. Certo dia eu e ele iniciamos uma discussão no meio da rua. Ele estava com uma arma na pasta, e eu com um facão embaixo da blusa.
Conforme as coisas foram esquentando passou um policial e o pai dela querendo sair com a razão, chamou o policial dizendo que eu estava o ameaçando com uma arma. Enquanto o policial se aproximou consegui me livrar do facão, mas no final nós fomos parar na delegacia”, lembra Rolf. E foi quando ele menos esperava que tudo deu certo. Rolf conta que quando estava na delegacia o delegado o revistou pegou a sua licença do exercito e viu que ele era uma pessoa do bem.
Conforme o delegado realizava os procedimentos padrões, o pai de Teresinha resolveu dar uma trégua ao rapaz. “Na delegacia ele me perguntou se eu gostava mesmo dela e se eu queria casar. Respondi que sim e ele me deu o prazo de um ano”. E no dia 25 de julho de 1952 aconteceu um dos capítulos mais marcantes dessa história. Foi quando os dois juraram perante Deus e as testemunhas que ali estavam amar um ao outro em qualquer circunstância.
Durante os 60 anos que estão casados, Rolf e Teresinha têm histórias boas e ruins para contar, mas em todas elas o amor e companheirismo entre os dois sempre prevaleceu. “Enfrentamos muitas dificuldades, mas sempre estamos juntos”, diz Terezinha.
Entre os momentos mais difíceis, Rolf lembra quando Teresinha ficava mais no hospital do que em casa. Na época, eles já tinham filhos, mas por um problema que nem os médicos conseguiram explicar, ela não poderia mais engravidar. “Acho que o que ela tinha era espiritual. Mas mesmo os médicos dizendo que não poderia mais ter filhos, tivemos mais três”, conta Rolf, orgulhoso. Hoje eles somam 8 filhos, 17 netos e ainda 7 bisnetos.
Para manter a família tiveram que trabalhar muito. “Durante 20 anos trabalhei como padeiro e nas horas vagas descarregava barco e trabalhava no engenho... Trabalhava de tudo que aparecia para poder ter um pouco de dinheiro por fora”, conta. De funcionário, eles chegaram a ter o próprio negócio. “O dono da padaria que eu trabalhava queria me dispensar. Então fizemos um acordo e eu acabei adquirindo a padaria em sociedade com meu filho mais velho”, lembra Rolf. E a padaria prosperou. Eles faziam encomendas para quase toda a cidade. Chegaram a ter 11 carros fazendo entregas.
Com certa estabilidade, o casal sentia o alívio de dever cumprido. Mas suas vidas iriam mudar depois de um convite para visitar uma igreja. “Depois de um ano frequentando a igreja, aprendendo e conhecendo mais a Deus, resolvemos largar tudo e seguir o caminho da fé”, conta Terezinha. Aposentado e com os filhos já criados, Rolf deixou a sua parte da padaria para seu filho e junto com Teresinha foi trabalhar para Deus. Atualmente, ele é pastor no Balneário Barra Velha, no Rincão e, junto com sua esposa, sempre está disponível para ajudar qualquer pessoa que precisar.
Qual seria o segredo para um amor durar tanto tempo? Controlar, de acordo com Teresinha, não funciona. “Eu sempre tentei mandar nele, e ele sempre me desobedecia. Sempre foi por preocupação, e não para controlar”, disse. Mas então o que há de diferente neste casamento, que permanece intacto após seis décadas? Para um dos filhos do casal, Denis Engel, eles tem um relacionamento normal, com fases boas e ruins. “O zelo que eles têm pelos filhos, a preocupação, o tempo que dispensam para os netos e bisnetos, que para eles são como filhos, é muito especial”, conta.
Para o casal não ha fórmula secreta para o amor. Pode se dizer, então, que amor é amor. E não se pode explicá-lo sem sentí-lo. Não tem como compreendê-lo sem ter vivido um grande amor intensamente. Mas o importante é que mesmo depois de dificuldades e de adversidades, Rolf e Teresinha ainda sentem a mesma sensação do primeiro encontro. “Hoje sozinho eu não vivo”, é a frase partilhada pelos dois.