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Cotidiano | 01/03/2019 | 08:32

Crônica: Crianças precisam de atenção redobrada nas festas de Carnaval

Simone Luiz Cândido

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Era época de finados quando resolvemos limpar a capela onde meus pais estão sepultados. Fomos eu meu esposo e minha irmã. Ao redor o mato tomava conta. Tivemos que levar enxadas, carpir, recolher os matos e fazer uma bela limpeza. Levamos nosso afilhado, filho da minha irmã, que morava conosco. Ele tinha apenas cinco anos na época.

Limpeza quase concluída eu e minha irmã ficamos na capela terminando para irmos embora. Meu esposo foi com o menino levar as ferramentas no carro. Um instante de distração e o menino ficou para trás. Meu esposo voltou o encontrou em prantos, algumas pessoas já tinham perguntado o que havia acontecido. Viram menino chorando. Estava perdido, mas logo o padrinho chegou, o acalentou e foi nos chamar para irmos embora.

Algum tempo depois saímos com ele para passear. Nos perguntaram: é filho de vocês? “Não, ele é nosso afilhado. Sempre levamos conosco. A minha irmã confia em nós”. O menino olhou arregalado para a moça que fez a pergunta e falou: “Outro dia eles me deixaram perdido no cemitério”. Silêncio profundo tomou conta de nós. Ele deve ter pensado: “Nossa, minha mãe confia nos meus padrinhos. Como puderam me perder no cemitério?”.

Algum tempo se passou, estávamos passando de carro na frente do cemitério, ele olhou para portão e disse: “Quando eu crescer nunca deixarei nem sobrinho, nem meu filho perdido no cemitério”. Rimos um pouco dessa fala dele. Mas sempre que saía juntos eu orientava: Qual é teu nome? Ele respondia. O que eu sou tua? És minha madrinha. Como é o nome da tua mãe? Ele sabia todas as respostas, pois tínhamos a preocupação de ensinar caso acontecesse algo novamente. Nessa época não tínhamos telefone celular.

Alguns anos depois estávamos no Parque das Nações. Meu esposo ficou com as meninas que na época tinham seis e três anos. Foram passear no trem, encontraram dois amigos filhos da vizinha, a maior de seis anos foi atrás dos amigos e num piscar de olhos meu esposo a perdeu de vista. Ele me liga perguntando se a menina estava comigo. Eu estava no shopping e respondi que não. Ele me relatou que a menina teria sumido.

Voltei para o parque, angustiada acionei a guarda municipal e fomos procurar a menina, pois já estava escurecendo. Ficamos uns vinte minutos procurando. Meu esposo foi ao shopping, perguntou se alguém tinha visto uma menina com as características dela. Os seguranças informaram que em uma loja estavam procurando os pais de uma menina que estava perdida. Para nossa sorte ela estava bem. Perguntamos como foi que viesse até o shopping?

Ela nos disse que foi até a faixa de pedestres, esperou os carros passarem e atravessou, chegando ao shopping, lembrou-se de falar que estava perdida. Olhou-nos com seus olhinhos castanhos um pouco marejados. Trazia consigo a bola que havia levado para brincar no parque em suas mãos. Foram momentos terríveis de angústias que passamos. Por sorte ela atravessou na faixa de pedestres e chegou até uma loja e disse que estava perdida.

Quando alguém relata a perda de uma criança por vezes julgamos, mas nos dois casos foram segundos de distração e por sorte nada aconteceu. Depois desse ocorrido, mudamos a senha do computador, colocamos o número de meu celular para que ela aprendesse caso precisasse, pois sempre estou com meu celular e tenho cuidado de que sempre esteja com bateria. Ensinamos que deveria procurar um policial ou até mesmo algum ponto de referência do local onde estivéssemos.

Essas orientações podem ajudar e muito nossas crianças. Hoje as meninas têm seis e nove anos. Ambas sabem os nossos telefones. Procuramos passar o maior número de informações possíveis, pois não se sabe quando pode acontecer outra distração ou estiver em algum lugar e vir a nos perdermos. Ensino nossos nomes completos, endereço, referências de onde moramos. São detalhes que podem salvar vidas e poupar de muitas angústias.

Outro dia fomos a uma antiga vizinha, nossa menina de seis anos já sabia deixar meu número de telefone. Todo cuidado é pouco. Precisamos ficar alertas aos nossos pequenos. O Carnaval vem chegando. Não custa nada colocarmos alguma identificação nas crianças, pulseira ou colar com nome telefone dos pais. Quem ama cuida. Não podemos deixar que por minutos ou até segundos de distração aconteça algo com nossos pequenos.