Cotidiano | 17/10/2012 | 10:14
Desde os tempos da Maria Fumaça
Especial do Jornal da Manhã
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Com 28 anos de carreira em ferrovias, o maquinista Luiz Henrique Kurzawe, de 50 anos, está com toda documentação pronta para se aposentar. No currículo, acumula desde as antigas Marias Fumaças até os atuais trens a diesel. Ele começou no dia 5 de outubro de 1984 e hoje é o maquinista com mais tempo de serviço ainda na ativa. “Minha família já tem tradição: pai, avô, irmão, primo e meu sogro trabalhavam na ferrovia, e eu segui o caminho. Na época, ferrovia chamava a atenção das pessoas, era um trabalho de destaque, mas que exigia muito preparo”, conta.
No começo, ele tinha quase 22 anos de idade e, após ser aprovado nos testes de admissão e treinamentos, passou a trabalhar como auxiliar de máquina, sendo o responsável por recarregar os trens com carvão na medida certa para que funcionasse. “Havia técnicas para controlar o trem. Dependendo da quantidade de carvão, o trem poderia até falhar com a pressão”, explica. Com o tempo, as Marias Fumaças foram, uma a uma, sendo trocadas por máquina a diesel.
Os trens eram mais modernos e exigiam apenas dois trabalhadores para operá-los, ao contrário dos trens movidos a carvão, que necessitavam de quatro técnicos. “Graças a Deus consegui me renovar e me manter no cargo. Embora a empresa tentasse readequar muitos trabalhadores em outras funções, demissões foram necessárias”, expõe o maquinista. Segundo ele, o trabalho ficou menos braçal, mas a responsabilidade continua a mesma de antigamente.
A nova geração de maquinistas não conheceu o trabalho nos trens rústicos, mas gostariam muito de ter conhecido, conforme conta o jovem maquinista Alessandro Borges, que trabalha há apenas três anos. “Eu troquei a área da cerâmica pela ferrovia e me apaixonei. É uma profissão que encanta e eu quero continuar nela por muitos anos ainda”, conta Borges, que usa diversos equipamentos de proteção atualmente, coisa que não havia na época de Kurzawe.
“Não tínhamos tantos itens de segurança, apenas o básico, luvas, botas, essas coisas. Quando veio a lei de segurança no trabalho, muita coisa melhorou, principalmente as proteções de ouvido”, comenta Kurzawe. O que ele e Borges compartilham é o gosto pela profissão incomum. “As pessoas ficam admiradas e curiosas quando digo que sou maquinista. Querem saber tudo, e eu falo com muito orgulho sempre”, conta o mais antigo trabalhador. Já Borges afirma saber que “são poucos que trabalham com isso. É muita responsabilidade o transporte de toneladas de materiais, me sinto especial por estar aqui”.
Otimista, Luiz Henrique acredita que as ferrovias serão o principal meio de transportes do país nas próximas décadas e que a profissão de maquinista será bem disputada. “A profissão nunca perdeu valor, e haverá muito mais interessados do que vagas”, opina o profissional. Segundo ele, as ferrovias do Sul recebem pouco investimento do Governo Federal, mas no Norte há bastante investimento. Ele não tem dúvidas: “As rodovias não suportam mais tantos caminhões e as ferrovias voltarão a ser o futuro do Brasil”.
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