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Antônio Carlos Mafalda

Cotidiano | 20/06/2021 | 12:00

Entrevista: “O jornalismo é o maior antídoto contra as notícias falsas”, garante Déborah Almada

Déborah Almada é presidente da Associação Catarinense de Imprensa

Lucas Lemos e Andreia Limas

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Déborah Almada, natural de Porto Alegre (RS), mas radicada em Florianópolis desde 1986, é formada em Jornalismo pela PUC/RS, foi repórter dos principais jornais de Santa Catarina, editora, e desde 2000 atua na área da comunicação corporativa. É casada com o também jornalista Rogério Kiefer e tem três filhos.

Além de sócia da All Press Comunicação, Déborah preside a Associação Catarinense de Imprensa. Ingressou na entidade ainda na gestão do ex-presidente, Moacir Pereira, como diretora, e posteriormente assumiu a vice-presidência da entidade na gestão Ademir Arnon, atual presidente do Conselho Superior.

"A ACI é uma entidade sem fins lucrativos, que nasceu há quase 90 anos para defender a liberdade de imprensa e ser um espaço de integração e associativismo, além de apoiar os profissionais da área em suas necessidades de qualificação e formação", ressalta. Além da entidade, nesta entrevista, Déborah fala também sobre os desafios atuais do jornalismo. Confira na íntegra:

Você é a primeira mulher à frente da Associação Catarinense de Imprensa desde a sua fundação, em 1932. Qual a importância dessa representatividade?

Se a gente parar para pensar um pouco, vai ver que até muito pouco tempo esses espaços não podiam ser ocupados por mulheres. Por uma razão ou outra, as mulheres sempre foram afastadas de posições de liderança e até hoje ainda se luta para ampliar o número de mulheres no Legislativo, no Executivo, no Judiciário, na política, na advocacia, nos conselhos de administração de empresas, nas empresas de tecnologia etc Precisamos valorizar e ampliar nossa presença, porque a diversidade de gênero, raça, sexo, e tantos outros tipos, é que fazem o mundo ser melhor, mais empático, mais inclusivo. Não há motivo nenhum para as mulheres nunca terem liderado uma entidade como a ACI. Então, eu acho muito representativo estar à frente da entidade e espero que as mulheres permaneçam ainda mais tempo.

Quais as ações atuais da Associação Catarinense de Imprensa no sentido de fortalecer a categoria?

A nova diretoria da ACI, empossada no final de 2020, tem feito muitas ações visando o fortalecimento da imprensa. Lançamos em março uma campanha de valorização do jornalismo, criada pela OneWG e produzida pela Latina Filmes. A campanha foi abraçada por todos os veículos de SC e pelo trade de comunicação, que veiculou gratuitamente o filme durante duas semanas.

Criamos a Diretoria de Defesa e Proteção da Liberdade de Imprensa e para esta pasta convidei meu amigo José Augusto Gayoso, um dos jornalistas mais competentes e experientes que temos no Estado.

Em abril, firmamos um convênio com a OAB/SC, articulado pelo Diretor Jurídico Arthur Bobsin, e a ACI passou a integrar a Comissão de Liberdade de Expressão, para atuar em casos de afronta à liberdade de imprensa, apoiando jornalistas. Para esta comissão, foram indicados pela ACI os jornalistas José Gayoso e Fábio Gadotti, do Grupo ND.

Também gostaria de destacar o Prêmio ACI Ocesc de Jornalismo, em parceria com uma respeitada instituição. O prêmio nasceu para valorizar a reportagem, que é a alma do jornalismo

A derrubada do diploma, o acúmulo de funções, a desvalorização por parte das empresas e da sociedade... Quais os principais desafios atualmente?

São muitos desafios, mas o maior, na minha opinião, é atuar num cenário hostil, em que as notícias falsas, mais que deslizes, são parte de uma estratégia para confundir e desinformar. Nunca o jornalismo foi tão necessário.

E como é possível ainda atrair novos jornalistas profissionais nesse cenário?

Vejo um mercado enorme para jornalistas. As redações, que estão mais enxutas, não são a única possibilidade de um recém formado - muito pelo contrário. Jornalistas podem atuar em muitas áreas, desde que estudem e se mantenham atualizados. Aliás, isso vale para qualquer profissão.

Como você vê o futuro da profissão? E qual será o papel da academia na formação desses novos profissionais?

Eu acho que a profissão de jornalista exigirá cada vez mais conhecimentos em áreas que até recentemente não faziam parte do repertório da maioria de nós - dados, estatística, ferramentas, tanto para ajudar na construção de audiência, como para entregar para a audiência os conteúdos que interessam. As faculdades de jornalismo acredito que cada vez mais estarão conectadas com outras áreas do conhecimento, sem evidentemente perder a essência do jornalismo: narrar os fatos.

Como o jornalismo/imprensa pode dialogar com novas tecnologias?

O jornalismo dialoga com novas tecnologias sob qualquer ponto de vista que a gente analisar. O repórter pode apurar melhor se conhecer dados (e as ferramentas podem ajudar nisso), e o veículo pode melhorar sua amplitude se conhecer melhor a sua audiência (e a tecnologia é fundamental para isso).

Com a quantidade de dados disponíveis na Internet e a facilidade de criação de conteúdos, temos um cenário também muito fértil para notícias falsas. Como as pessoas podem se proteger das fake news?

O jornalismo é o maior antídoto contra as notícias falsas. As pessoas precisam verificar as informações antes de compartilhar. Um bom termômetro é a reputação de um veículo. Fazer jornalismo custa caro, então o ideal é buscar informação em veículos que investem em jornalismo, em reportagem.

Aos jornalistas e profissionais da imprensa, qual a mensagem você gostaria de deixar ao final da entrevista?

Para os jornalistas, especialmente os que estão na linha de frente da notícia, eu diria que tenham orgulho, sempre, da profissão que escolheram e lembrem da responsabilidade enorme que é bem informar. Quando eu vejo pessoas atacando jornalistas, eu sinto muita tristeza também, porque essas pessoas não percebem a importância da nossa profissão e como ela é um pilar das liberdades.

E para a sociedade em geral, o que você acredita que é importante ressaltar neste momento?

Neste momento, eu diria apenas que tenham cautela com as informações que recebem, especialmente por meio de mensagens instantâneas. Valorizem o trabalho dos jornalistas e busquem informações em veículos idôneos.