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Cotidiano | 10/03/2025 | 09:57

Escritora içarense compõe antologia poética Vozes Femininas

Priscila Dritty já possui mais 17 publicações e 1 e-book como coautora

Redação

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Quem poderia imaginar que um desabafo poético da década de 90 viesse fazer tanto sentido nos dias atuais. O poema intitulado de Beleza!, da escritora içarense Priscila Dritty, foi desenvolvido quando ela ainda estudava no ensino médio, na EEB Antônio João, atualmente EBB Professora Salete Scotti dos Santos. A poesia não fazia parte de nenhum trabalho escolar, foi um desabafo depois de ter vivenciado uma crise de autoestima.

“Os padrões de beleza daquela época não tinham estímulos a aceitação a beleza afrobrasileira, do cabelo crespo. Na época em recém havia completado 15 anos, e vislumbrando a majestade e beleza daquela fase, percebi que minha beleza não era algo que tivesse voz, e nem vez”, relata a escritora, atualmente, integrante da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina, Seccional de Içara.

Priscila relata que, havia feito algumas fotos em estúdio, o que já era comum naquela época. Preparou-se para o grande dia, esperando que as lentes mágicas da fotografia mostrassem a ela a pessoa que ela pensava ser, que destacassem a beleza que ela imaginava que tinha. Mas não foi bem assim. Levou uma roupa simples, não fez nenhuma maquiagem especial, estava com o cabelo preso, com o penteado que era habitual naquela época. O uso dos óculos era recente. A única coisa que ela levou de verdade na bolsa foi a coragem e ousadia.

“Sai do estúdio animada, apesar de não ter ficado muito a vontade. Era a primeira vez que tinha feito fotos assim, e ansiosa pelo resultado já pensava em fazer de novo. Lembro-me de que sempre via foto de debutantes, praticamente não havia fotos de mulheres negras, nada que revelasse a beleza da nossa etnia. As poucas que eu via eram sempre de cabelos lisos e muito escorridos e olhando pra aquilo eu não me conectava, não me sentia pertencente”, comenta ela.

Chegou então o dia de ir buscar as fotos. E o que deveria ser uma grande alegria, se tornou em frustração. As imagens dentro do envelope destacaram pra ela muitas imperfeições, exalando uma tristeza que foi posta pra fora em forma de poesia. As fotos foram rasgadas em vários pedaços e jogadas no lixo. “Mas, apesar de ter vivido aquela situação, que foi tão bem descrita em minha poesia, também refleti muito sobre a fixação e exigência do ser uma mulher bonita, sobre como eu poderia me encaixar no padrão de beleza daquele tempo, para me sentir aceita e valorizada”, indica Priscila.

Durante os últimos 20 anos muitas mudanças aconteceram. A poesia esteve guardada a sete chaves, juntamente a tantos outros rascunhos que guardam memórias e vitórias daquela fase. A poesia foi enviada para alguns editais, mas por ser um texto considerado longo, acabou sendo desclassificado, até que pudesse ter a sua voz, e vez na antologia poética “Vozes Femininas”, da Editora Tertúlia, da Bahia.

A antologia acolheu poemas de pessoas autoras, de temática livre e de todas as formas, em Língua Portuguesa. “Foi um desafio pra mim, fazer parte de um projeto exclusivo para mulheres e de uma editora baiana. Toda a equipe de revisão e produção da antologia foi de extrema excelência e zelo durante a publicação dos textos. Esse texto é a minha pérola, e teve o carinho e a valorização que sempre desejei a ele”, afirma a escritora.

Beleza!, de Priscila Dritty

Beleza ?!!
O porquê da beleza?
Ó incerteza, Que nos enche de tristeza!
Inconformada estava,
Pelo que viu no retrato.
O desenho de um rosto gordo,
De uma orelha ferida,
De um sorriso mal dado,
De uma mulher inibida, e sem graça.
Mas, Porque sentir-se assim?
Que bens a beleza física trará para si?
Elogios, assobios, cantadas sem fim, ilusões e cobiça,
Mas pra quê?
De que valerá um belo corpo,
Com um rosto bem harmonizado Se a alma estiver vazia,
Desolada, De que servirá a beleza?
Não será melhor mantê-la dentro do corpo
Onde não envelhece,
Onde não se aborrece?
Uma alma preciosa vale,
Mais que um corpo bem “bisturiadinho”
Embora saibamos que,
No mundo onde estamos,

Todos apreciam bem mais A beleza do lado de fora
Esquecendo a do lado de dentro
Desprezando o mais importante: O sentimento...!
A donzela que se preza,
Não mais se revolta,
Felicitasse e agradece,
Pelo seu caráter,
Pela sua saúde,
Pelo dons, talentos e valores,
Que são essenciais
Para que homens e mulheres
Amem e respeitem a si mesmos e se reconheçam especiais.