Cotidiano | 15/05/2013 | 13:49
Idade não importa, o que vale é o sentimento
Especial de Samira Pereira, do Jornal da Manhã
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Valdecir Medeiros é viúvo há 18 anos. Vanilda Pacheco Lodetti, há 25. Ele gosta de conversar, é espontâneo, faz piada. Ela é mulher de riso frouxo, se socializa fácil. Morando em Araranguá, o senhor desempenhou diversas atividades durante a vida. Vanilda, de Içara, dava aula para crianças da primeira à quarta série do ensino fundamental. Os dois são aposentados. Os dois têm famílias constituídas. Os dois, depois dos 70, resolveram tentar a felicidade mais uma vez, e decidiram namorar. Um relacionamento que iniciou há um mês e quatro dias. “Eu achei que fosse mais, mas se ela diz, eu não discordo”, coloca Valdecir.
Assim como o novo casal, muitos outros idosos passam por esta situação. Mesmo chegando à terceira idade, já com os cabelos brancos e possíveis problemas de saúde, encaram uma nova relação. Afinal, como dizem, nunca é tarde para amar e se sentir amado. Valdecir se diz namorador, já teve outras companheiras nos últimos anos e gosta mesmo é de dançar, ficar junto. “Ela tropeçou no orgulho e caiu nos meus braços”, fala, aos risos.
Vanilda conta que após ter ficado viúva nunca mais casou. Teve um namorado aqui, outro ali, mas nada sério. “É bom ter um parceiro com quem conversar, mas tenho muitos ciúmes do Valdecir. Eu gosto dele, e cuido do que é meu”, fala, enfática. As recordações do passado, no entanto, não são substituídas pelas novas vivências. Mesmo com a nova namorada, o senhor lembra, com carinho, da esposa, falecida há quase duas décadas. “Ela era linda demais. Quando íamos às domingueiras, os outros homens vinham pedir para eu deixar eles dançarem com ela. E eu não autorizava, claro. Aquela mulher era muito especial, trabalhadeira, nunca vou esquecer tudo o que ela fez por mim”, conta.
O casal, agora, vive um dia de cada vez, aproveitando o quanto podem este novo relacionamento, que acaba de nascer. Não existem expectativas, tão pouco intenções mais sérias. O que fica, em ambos, é o desejo de ter companhia para que possam conversar quando quiserem, puderem ou acharem necessário. “Não existe idade para namorar, o importante é se dar bem. Às vezes eu penso, pra que casar no papel passado? Papel não amarra ninguém. Casado mesmo são o homem e a mulher que vivem bem, que não se brigam por qualquer besteira”, explana.
Conforme a gerontóloga Nádia Marisa Nunes, o namoro a esta altura da vida vem ao encontro da necessidade de ter alguém do lado, com quem se possa dividir alegrias, medos e angústias. “Geralmente são dois viúvos que se encontram e iniciam uma vida nova, um mundo novo. Já estão com os filhos criados, famílias formadas, só querem uma companhia para passar o resto da vida”, expõe a profissional.
De acordo com Nádia, essa antiga história de que o idoso é velho demais para tentar algo diferente não existe mais. É nesta fase que muitos deles aproveitam para curtir aquilo que não puderam enquanto mais novos. Por isso, é comum ver viúvos viajando, conhecendo lugares, tendo novas experiências. “Recém-casais de idosos costumam fazer muito disso. Eles querem aproveitar a vida”, coloca.
Geralmente os homens começam a namorar mais cedo após a viuvez. O período de luto é mantido, mas em seguida inicia a procura por uma mulher que possa fazer-lhe companhia. “Eles são mais dependentes. Hoje, já participam da vida do lar. Mas os mais velhos não participavam. Muitos nem sabem onde a roupa está guardada, dependem das mulheres para tudo. Por isso sentem esta necessidade de encontrar uma companheira com quem possam dividir seus problemas e dúvidas”, fala.
Já as mulheres que optam por encontrar um namorado, geralmente o fazem após algum tempo da perda do marido. Primeiro aproveitam um pouco sozinhas, e depois, se acharem por bem, acham um novo companheiro. “Elas são mais independentes, participam de Clubes de Mães e de Idosos, curtem bastante, e só então pensam em ficar com alguém novamente”, explana.
O problema, em muitos casos, é que muitas vezes a própria família não permite o relacionamento, com medo de que algum tipo de situação, principalmente envolvendo o lado financeiro, possa prejudicar o idoso. “Não digo que isso não acontece, mas os filhos têm de ver que faz bem, dá um novo ânimo, alegra a vida. Um relacionamento com esta idade mantém a vontade de viver e a sensação de ser amado e querido”, explana Nádia.