Cotidiano | 18/06/2010 | 16:01
Letras embaralhadas
Larissa Matiola (Jornal Gazeta) - jornalismo@gazetasc.com
Compartilhar:
O mundo das letras sempre foi um mistério para o estudante Márcio*, de 14 anos, na 8ª serie de ensino fundamental. A mãe Sueli*, dona de casa, conta que o filho sempre foi estudioso, mas nunca conseguiu entender sua dificuldade de aprendizagem. “Ele sempre foi dedicado, mas nunca conseguia tirar notas boas”, comenta. Os sinais de dificuldades tiveram início aos quatro anos, com uma gagueira. Até completar dez anos de idade, frequentou um fonoaudiólogo e uma psicóloga por causa disso. “As profissionais acreditavam que o problema poderia ser emocional. Na época meu marido não vivia com a gente, e a dificuldade na fala poderia estar associada à falta do pai”, recorda.
Os anos se passavam e a situação não era resolvida. Até que em consulta com um especialista foi diagnosticada a causa: o garoto tinha dislexia e déficit de atenção. A partir daquela data deu-se início ao tratamento que segue até hoje. A maior dificuldade de Márcio, está relacionada à leitura e aos cálculos. “Ele começa a ler um texto, mas quando chega à terceira frase não consegue lembrar o que estava escrito na primeira”, conta a mãe. O fator exige maior atenção dos professores na escola.
Dados da Secretaria de Educação de Içara revelam o surgimento de 14 casos em escolas municipais. “O índice é pequeno, mas a situação torna-se complicada, já que a maioria das crianças vem acompanhada de problemas como famílias desestruturadas”, diz a fonoaudióloga da rede, Celiane dos Santos Ramos. Ainda segundo ela, todos estão sendo acompanhados. O tratamento é lento e envolve diversos profissionais. “A dislexia não tem cura apenas quadros de melhora”, explica.
Também segundo a profissional, o diagnóstico pode demorar a acontecer. “Hoje as crianças entram muito cedo no ensino fundamental, muitas com cinco anos e isso dificulta ainda mais identificar a doença. Por serem novos, os pais e professores acreditam que seja normal não se sair bem na escola”, explica.
PROFESSORES: Com a intenção de entender o problema e lidar com os estudantes que possuem a doença, 26 educadores da rede municipal participaram no último dia 29 de maio de um curso sobre Dislexia - Confusão ao Pé da Letra, realizado na Assembleia Legislativa de Florianópolis. O evento tratou sobre a dificuldade de aprendizagem e como identificar a doença. “Aprendemos diversas metodologias para lidar e identificar o problema. Hoje temos muitos casos de dificuldade de aprendizagem o que não significa que a criança tenha dislexia”, destaca a psicóloga da Secretaria de Educação, Angelita Zamberlam Nedel.
*Os nomes são fictícios para proteger os entrevistados
Na edição 358 do Jornal Gazeta você também confere:
» GERAL: Gazeta é apontado como o mais lembrado de Içara
» SEGURANÇA: Vandalismo amplia gastos públicos