Cotidiano | 30/07/2011 | 10:05
No rádio, uma atração ao vivo
Derlei Catarina De Luca - derlei.deluca@canalicara.com
Compartilhar:
Getúlio assumira o poder e fazia grandes discursos comentados por todos. Pouquíssimas pessoas tinham rádio que funcionava a bateria. Eram enormes e verdadeiros móveis exibidos na sala de visitas.
Conteúdo relacionado:
Especiais » Histórias além das lendas contadas em Içara
As notícias por aqui [Içara], chegavam pelo telégrafo da estação do trem ou pelo Correio Rio Grandense, um semanário que muitos assinavam. A Voz do Brasil tinha sido instituída. E, a nação gostava de ouvir os feitos da pátria que orgulhava a todos.
Eram tempos em que se cantava: “Grande, muito grande, pela terra e pela gente, dia a dia mais se expande, o Brasil, a gloria e a gente. Não há mais formosa terra que a do Cruzeiro não há gente mais briosa do que o povo brasileiro”.
Os amigos comentavam a necessidade de adquirir um rádio. Abílio resolveu fazer uma brincadeira com os amigos. Avisou a todos que ia comprar um. Pegou o modelo de uma revista, estudou, fez os móveis na marcenaria parecidos com o da revista. Desmanchou uma balança que sua mãe usava para pesar trigo, tirou o fiel da balança e dela fez o dial para o rádio.
A estrutura externa tinha um metro e meio de altura, de madeira caprichosamente envernizada. Arrumou fios e tomadas. Avisou os amigos que o rádio eventualmente poderia falhar por que a luz da serraria do Antonio Fermo era fraca, mas ia tentar assim mesmo. Combinou então com o amigo Casimiro Raicik para ser o locutor.
Para dificultar o reconhecimento, Casimiro só falaria em polonês que os amigos pouco entendiam. Programaram os discursos e músicas tocadas no violão. Construiu uma parede de madeira na oficina com um buraco no meio e encostou o rádio na parede. Depois disso, chamou os amigos: Antoninho e Lauro Lima, comerciantes vizinhos, Cazuca, que era coletor e vários outros para inaugurar o rádio.
Ligou o rádio, mexeu no dial, localizou a estação e conforme o combinado Casimiro começou a falar em polonês. Os Lima não entendiam polonês e pediram para mudar de estação, mas não adiantava mexer no dial. Só pegava uma estação. Abílio alega que o rádio estava com defeito e ia reclamar com o vendedor. Casimiro então encerrou a falação e começou a tocar violão. Enquanto ele falava o som saiu direito, mas quando começou a tocar violão o som se espalhou por toda a oficina.
Desconfiado, Cazuca subiu numa cadeira e começou a examinar por cima do rádio e da parede. Logo descobriu o engodo. E, começou a rir sem parar. “É tu é? Disse Cazuca para Casimiro, que saiu enraivecido, jogou o pretenso rádio nos trilhos e ficou dois meses sem falar com os amigos”.