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Lucas Lemos [Canal Içara]

Cotidiano | 10/12/2021 | 17:55

Obra do artista Caio Borges inspira projeto de acessibilidade educacional

Tela foi transformada em material 3D para reconhecimento tátil de aluna da Escola Salete Scotti dos Santos

Lucas Lemos - lucas.lemos@canalicara.com

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Mais do que uma descrição, as linhas sinuosas traçadas pelo artista içarense Caio Borges ganharam volume. E, dessa forma, um de seus trabalhos, da série Ciclistas, agora está acessível também para quem não consegue enxergar com os olhos, mas tem sensibilidade de ver o mundo com o tato e a imaginação.

A transformação de uma das telas para uma peça 3D com 30cm foi motivada pelo carisma de Ana Julia Maiate Vieira. Ela teve uma má-formação ocular congênita bilateral que culminou com o deslocamento da retina. Aos 16 anos precisou passar por uma cirurgia de urgência, mas o procedimento não teve o resultado esperado. Desde então está em processo de adaptação.

Com os dedos sobre os relevos do material, Ana Júlia indica, com o sorriso no rosto escondido por trás da máscara - por causa da pandemia - a alegria de entender as figuras de Caio Borges. “É um aprendizado muito grande. Já consigo ver as obras que ele faz”, comemora rodeada pelos professores e a família, todos emocionados ao acompanhar o momento nesta sexta-feira, dia 10.

Devido a baixa capacidade visual, Ana Júlia já tinha o acompanhamento do Atendimento Educacional Especializado do Município. Em 2020, a jovem ingressou no Ensino Médio na Escola Professora Salete Scotti dos Santos, onde esse suporte foi ampliado com o envolvimento também da equipe da unidade no processo de ensino-aprendizagem adaptado.


Detalhes nas pontas dos dedos

Conforme a professora do apoio pedagógico da escola, Alessandra Dagostim Oggioni Martins, a impressão 3D para a aula de Artes foi uma necessidade para poder transmitir melhor os detalhes da obra. “Com esse toque, possibilitamos que a imagem mental tenha uma proximidade muito maior com a obra do que apenas com audiodescrição”, completa. Até chegar a primeira experiência de tato foram ao todo quatro meses.

Segundo a professora de Artes, Lilian Rosane Philippi, assim como outros estudantes neste período, Ana Júlia também fez uma releitura do artista. Ela desenhou os primeiro traços através da audiodescrição. Essa mesma atividade ocorreu agora com a peça em 3D, dividida em quadrantes para a percepção dos elementos que estão na pintura, e o desenho tornou-se mais preciso. “A Júlia tem surpreendido muito. Depois de tantos anos trabalhando e lecionando, ela conseguiu nos emocionar”, ressalta.

Projeto será aprimorado

Para o desenvolvimento do projeto, os professores de Içara contaram com o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). E pelo resultado já obtido, a iniciativa conjunta deverá ganhar mais um parceiro. É que a intenção é disponibilizar o material à Galeria Caio Borges, instalada dentro do Paço Municipal, para que outras pessoas tenham essa possibilidade de acessibilidade.

De acordo com a coordenadora do projeto no campus de Criciúma, a arquiteta Giovana Milaneze, integrante do Núcleo de Acessibilidade Educacional do IFSC, a peça que Ana Júlia teve acesso ainda é um protótipo. “Foi entregue para que a aluna tateie e para termos um retorno sobre efetividade e aprimoramentos necessários. Temos também outra opção para produção, além da técnica de impressão 3D, que seria a usinagem”, antecipa.