Cotidiano | 10/03/2018 | 11:00
Opinião: Causas da pobreza
Leitor Mario Eugenio Saturno*
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As pessoas que demonstram comportamentos antissociais, como ser agressivo, hiperativo e ter problemas na escola, tendem a sofrer desemprego crônico, pobreza persistente, depender de assistência social e sofrer uma morte prematura, de acordo com um novo estudo do Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade de Michigan.
De fato, esse tipo de persistência no comportamento antissocial revelou-se um indicador forte e independente, juntamente com habilidades cognitivas reduzidas, de modo que esses indivíduos permanecem permanentemente incapazes de participar da força de trabalho aos 50 anos.
Tradicionalmente, os estudos de pesquisa sobre conquistas socioeconômicas se concentraram na capacidade cognitiva e no desempenho educacional como fatores individuais fundamentais, mas recentemente pesquisadores começaram a explorar como fatores não cognitivos, como saúde mental, problemas comportamentais e traços de personalidade desempenham um papel importante no desempenho acadêmico, emprego e resultados relacionados.
Os pesquisadores queriam entender o processo do ciclo de vida em que os indivíduos acabam deixando a força de trabalho ou treinamento durante seus primeiros anos de trabalho. Utilizaram os dados do Estudo Longitudinal de Personalidade e Desenvolvimento Social de Jyväskylä, que segue indivíduos de uma cidade no centro da Finlândia, entre as idades de 8 a 50. A região, que é étnica e socioeconômica homogênea, fornece um cenário valioso para cientistas sociais para estudar como os traços de personalidade influenciam a vida das pessoas.
Todo mundo conhece o bem-estar dos países nórdicos, onde as oportunidades são relativamente iguais e a rede de segurança social é muito forte, é onde devemos esperar que as diferenças individuais se tornem muito mais importantes na determinação dos resultados da vida. Os pesquisadores examinaram os dados de 369 pessoas durante décadas. Aos oito anos, coletaram avaliações de professores e colegas de classe de crianças com propensão antissocial ou com comportamentos agressivos ou incapazes de controlar o próprio comportamento, bem como variáveis de desempenho e controle da escola, como gênero e nível socioeconômico familiar.
Aos 14 anos, o estudo coletou relatórios de professores sobre problemas comportamentais e dados escolares do desempenho acadêmico. No início da idade adulta, o estudo mediu o status socioeconômico dos participantes e comportamentos anormais, como comportamentos criminosos, consumo excessivo de álcool e alcoolismo, com base em questionário de autorrelato e registros administrativos do governo. Na meia idade, com aproximadamente 50 anos, o estado socioeconômico foi medido usando informações fiscais do governo, saúde e registros populacionais.
Os pesquisadores observaram uma forte correlação entre atitude antissocial que mais tarde se manifesta na delinquência e quebra das regras. Em outras palavras uma criança antissocial tem grande chance de viver na pobreza persistente e ter desvantagem socioeconômica. Algo que as autoridades e educadores deveriam priorizar em suas ações. Se isso foi observado na Finlândia, imagina no Brasil!
*Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.