Cotidiano | 03/03/2018 | 11:00
Opinião: Efeitos dos filmes de terror
Leitor Mario Eugenio Saturno*
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Em um estudo liderado por Sarah Erickson, do Departamento de Ciências da Universidade de Michigan em conjunto com a Universidade de Wisconsin, os cientistas descobriram que assistir a filmes de terror ou alguns programas de televisão podem deixar algumas pessoas sentindo medo por muitos anos. Esse estudo seguiu outro feito em 1999, quando foi descoberto que muitos adultos sentiam medo e ansiedade por causa dos filmes de terror ou programas de televisão com conteúdo perturbador que assistiram durante a infância e adolescência.
O novo estudo capturou a evolução do conteúdo da mídia e das respostas do público que não foram abordadas no estudo de 1999. Essa pesquisa é muito importante, pois um programa de televisão ou filme de terror pode aterrorizar as pessoas até anos mais tarde e os avanços em tecnologia digital e o acesso a serviços de transmissão de vídeos, como Netflix, aumentam as chances das pessoas serem expostas a estímulos mais aterradores.
Os pesquisadores verificaram que os jovens expostos a momentos de medo usavam estratégias de comportamento de sobrevivência, como cobrir seus olhos ou sair da sala. Já as pessoas mais velhas usavam estratégias cognitivas, como dizer a si mesmas “é apenas um filme” ou “isso nunca poderia acontecer na vida real”.
Quase 220 participantes participaram do estudo, em que foram convidados a refletir sobre experiências de medo na infância, antes dos 13 anos de idade, e depois como adolescente ou adulto. Os participantes responderam perguntas sobre a duração da sensação de medo, os mecanismos e as fontes do conteúdo, bem como as formas em que enfrentaram os medos.
Essas experiências envolviam algum programa da mídia que perturbou ou assustou a pessoa tanto que o efeito emocional continuou mais tarde. Os pesquisadores observaram que 165 tiveram uma experiência de medo durante a infância e 128 tiveram quando adulto.
A maioria dos participantes disse que durante a infância, monstros sobrenaturais, como zumbis ou extraterrestres, foram os principais culpados na produção de medo. Quanto à duração, 39% disseram que o susto de infância durou até anos depois e afetou comportamentos normais, como dormir e comer. E 58% reportaram que sofreram de ansiedade e 18% tiveram medo de morrer.
Para adolescentes e adultos, experiências assustadoras foram associadas a náuseas, aumento da frequência cardíaca e medo de morrer. Os pesquisadores também observaram como histórias não baseadas em ficção, incluindo documentários e notícias, se encaixam em respostas de medo. A violência na mídia, incluindo a cobertura dos ataques do World Trade Center em 11 de setembro de 2001, contribuiu para aumentar o medo de seres humanos perversos em adolescentes e adultos.
Adolescentes e adultos são mais capazes de usar lógica e raciocínio para lidar com suas respostas ao medo, enquanto as crianças devem confiar em comportamentos como evitar estímulos assustadores ou buscar conforto físico, concluíram os pesquisadores. Em suma, as crianças e adolescentes devem ser mantidos longe de filmes de terror e programas sensacionalistas sobre violência.
*Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.