Cotidiano | 30/09/2017 | 11:00
Opinião: O clima como bem comum
Leitor Mario Eugenio Saturno*
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Na Encíclica Laudato Si do Santo Padre Francisco, no §23, ele afirma que o clima é um bem comum, um bem de todos e para todos. Assume que há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático. E que nas últimas décadas, este aquecimento foi acompanhado por uma elevação constante do nível do mar.
A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam. É verdade que há outros fatores, mas numerosos estudos científicos indicam que a maior parte do aquecimento é devida a atividade humana.
Por sua vez, o aquecimento influi sobre o ciclo do carbono (§24). Cria um ciclo vicioso que agrava ainda mais a situação e que incidirá sobre a disponibilidade de recursos essenciais como a água potável, a energia e a produção agrícola das áreas mais quentes e provocará a extinção de parte da biodiversidade do planeta.
O derretimento das calotas polares e dos glaciares, a libertação de gás metano e a decomposição da matéria orgânica congelada pode acentuar ainda mais a emissão de dióxido de carbono. Entretanto a perda das florestas tropicais piora a situação, pois estas ajudam a mitigar a mudança climática. O dióxido de carbono aumenta a acidez dos oceanos e compromete a cadeia alimentar marinha.
Se a tendência atual se mantiver, este século poderá ser testemunha de mudanças climáticas inauditas e duma destruição sem precedentes dos ecossistemas, com graves consequências para todos nós. Por exemplo, a subida do nível do mar pode criar situações de extrema gravidade já que um quarto da população mundial vive à beira-mar ou muito perto dele, e a maior parte das megacidades está situada em áreas costeiras.
As mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais (§25), sociais, econômicas, e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade. Muitos pobres vivem em lugares particularmente afetados por fenômenos relacionados com o aquecimento, e os seus meios de subsistência dependem fortemente das reservas naturais e dos chamados serviços do ecossistema como a agricultura, a pesca e os recursos florestais. Não possuem outras disponibilidades econômicas nem outros recursos que lhes permitam adaptar-se aos impactos climáticos.
A falta de reações diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda a sociedade civil. Muitos daqueles que detêm mais recursos e poder econômico ou político parecem concentrar-se em mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas, procurando apenas reduzir alguns impactos negativos de mudanças climáticas (§26).
Tornou-se urgente e imperioso o desenvolvimento de políticas capazes de fazer com que, nos próximos anos, a emissão de dióxido de carbono e outros gases altamente poluentes se reduza drasticamente, por exemplo, substituindo os combustíveis fósseis e desenvolvendo fontes de energia renovável.
*Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.