Cotidiano | 22/06/2010 | 10:24
Sem opções de lugar para dormir
Lucas Lemos - lucas.lemos@canalicara.com
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O que separa o casal do chão são duas camadas de papelão e um cobertor. Com 33 anos cada, eles dizem possuir residência fixa em Criciúma. Mas, a cada mês passam dias e noites instalados no Centro, ao lado da Secretaria de Saúde de Içara, enquanto são examinados e aguardam os resultados. Fazem isso para ter o acompanhamento do HIV. E, para também garantir a saúde do filho que esperam há quatro meses.
Em junho, a acomodação do artesão e da companheira em plena rua correspondeu ao primeiro dia de inverno. Não há outro lugar para ficarem, faça frio ou calor. Içara não conta com nenhum albergue ou local específico para este tipo de hospedagem. Na noite de segunda-feira, os amasiados ainda estavam junto com um outro morador de rua, natural de Uruguaiana (RS). Para reduzir o frio, o colega conseguiu improvisar uma barreira com o carrinho em que transporta materiais recicláveis. “Se eu fosse governante, gostaria de conseguir bem estar social”, retruca o acompanhante sobre a própria situação.
Nas poucas mochilas do grupo formado há um dia, os acolchoados dividem espaço com sacolas de pão e mortadela. As refeições, quando a fome bate, ocorrem ali mesmo, na rua. A vizinhança também colabora e já conhece pelo menos o casal. Afinal, são 14 meses nesta situação. Além do dinheiro proveniente do artesanato, o sustento do casal também depende do benefício recebido do Estado pela mulher grávida. São R$ 380,00 mensais.
Já em relação ao romance, são quatro anos. Desde o início, com muita sinceridade. O homem com barba por fazer e cabelos encaracolados revela que se declarou para a amada junto com a notícia de que carrega o HIV, vírus que pode acarretar a Aids. “Ela olhou para mim e disse não ter problema, pois também é portadora há nove anos”, explica. E ainda segundo ele, os dois tiveram o contagio da mesma forma, através de relações sexuais. “Apesar de sermos portadores, usamos camisinha para evitar o agravamento das nossas situações. Não sou maluco não. Sou consciente”, completa.
PLANO ASSISTENCIAL: A parceria com cidades que possuem albergue e a posterior construção de um prédio próprio fazem parte do Plano de Assistência Social encaminhado ao Governo do Estado na última semana. Contudo, por enquanto a obra não tem nem mesmo orçamento previsto. Questionada sobre a possibilidade do serviço ser criado, a gestora municipal da Secretaria de Assistência Social, Silvana Vasconcelos, afirma desconhecer a demanda.
Conforme a assistente social do Centro de Referência Especializada em Assistência Social (Creas), Liziane Cesconetto Mazzuco, enquanto o município não dispõe de estrutura para abrigar os moradores de rua, os trabalhos se resumem ao acompanhamento desta parcela da população. Por mês, as abordagens variam de três a cinco pessoas. “Pelo corte da BR-101, temos apenas pessoas que passam pelo município”, afirma.