logo logo

Curta essa cidade!

HUB #IÇARA

Venha fazer também a diferença!

Comunicação + Conteúdo + Conexões

Acessar

Cotidiano | 23/04/2011 | 14:24

Seo Pagani, um bergamasco na praia

Derlei Catarina De Luca - derlei.deluca@canalicara.com

Compartilhar:

Antônio Pagani, mais conhecido como Seo Pagani, era um homem miúdo e conhecido por todos os habitantes e veranistas da Praia do Rincão na década de 60. Não tinha quem não conhecesse e não gostasse dele. Era filho de Alexandre Pagani e Magdalena Provesani, oriundos de Bergamo, Itália, ao final do século XIX.

Conteúdo relacionado:
Especiais » Histórias além das lendas contadas em Içara


Seo Pagani nasceu em Primeira Linha em 1895, de Nosso Senhor Jesus Cristo, no local exato onde posteriormente foi construído o 28º GAC. Casou com Luiza Dinca, com quem teve 9 filhos. Foram cinco mulheres e quatro homens criados no tempo em que o único trabalho possível era a agricultura. Maria, Libera, Alexandre, Mário, Concilia, Edite, Romeu, Otávio e Alzira.

Morou em Primeira Linha até aos 32 anos. Foi quando se mudou para uma casa próxima da Igrejinha de São João. Tempos depois se transferiu para Içara, mas continuava trabalhando na lavoura. Sua paixão era corrida de cavalo. Roubava o milho plantado pela esposa e filhos para o sustento da casa e alimentava seu cavalinho. As corridas de cavalos eram realizadas aos domingos e feriados, em Sanga Funda, na propriedade da família Melo. Tinha entre os companheiros Silvino De Luca, Manoel Pacheco, Valdemar De Luca e Hercílio Galdino.

Em 1952, Seo Pagani transferiu a residência para a Praia do Rincão. As pessoas estavam começando a freqüentá-la no verão. Era o período do pós-guerra. As mulheres inauguraram o biquíni no Rio de janeiro, freqüentar praia virara moda, as pessoas celebravam a liberdade, e a prosperidade parecia palpável. Lá, se estabeleceu com um pequeno comércio de secos e molhados e dava pensão aos veranistas.

As pessoas com mais posses construíam as primeiras casas na Praia e a pensão fornecia almoço e janta para os trabalhadores da construção civil. A casa era de madeira, colocada sobre a areia. Uma pequena escada levava a uma imensa varanda onde ficavam as redes. De um lado a venda. De outro, os quartos. E, no centro, uma imensa sala onde serviam as refeições.

A louça era lavada no alguidar de barro, em uma janela suspensa que servia de pia. A água era jogada na areia. Embaixo do assoalho as galinhas ciscavam na areia que sem receber sol permanente, conseguia manter-se úmida fazendo surgir as primeiras ramas de capim. Como homem bem relacionado, logo assumiu a função de polícia do Quarteirão. Na verdade, qualquer problema de segurança era resolvido por ele.

As famílias tinham total confiança e lá ficavam as chaves das casas da Praia. Um tempo em que não se pagava caseiro e tudo era na base da confiança. A sala e a bodega estavam sempre cheias de gente. Os homens jogavam canastra, comiam polenta com fortaia e tainha frita. O arsenal alcoólico era dos mais variado. Preparava as bebidas de um ano para outro curtindo a cachaça na losna, na arnica e no butiá.

As crianças se balançavam nas redes e consumiam todos os cavaquinhos feitos por Concilia, sua filha, que tinha uma infinita paciência com as elas. A venda dava personalidade à praia e servia de centro de recados aos moradores e veranistas. O ônibus da São Cristóvão lá deixava cartas e os jornais. Ele parecia ter encontrado sua vocação, como se tivesse nascido à beira do mar. A maior rua da Praia tem seu nome numa merecida homenagem. Morreu aos 90 anos, em 1985 e seus descendentes fazem parte de vários segmentos da sociedade içarense.