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Lucas Lemos [Canal Içara]

Cotidiano | 13/11/2021 | 11:03

Simone Cândido: Anadírio Martins, um exemplo de determinação

Uma pessoa alegre, que adaptou-se para seguir sempre em frente

Simone Luiz Cândido

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Anadírio Martins da Silva nasceu em 19 agosto de 1973 em Bom Retiro, em Santa Catarina. Filho de Tereza Martins e de João Carvalho da Silva, irmão de Adriano Martins da Silva, Flávio Carvalho e Leonido Carvalho. Sua infância foi bem difícil. De família humilde, desde novinho fazia pequenos serviços, vendia picolés e engraxava sapatos. Por isso não tem muitas lembranças de brincar em sua infância. Naquela época se começava muito cedo, ajudando os pais na renda familiar.

Em 2006, morava em Balneário Camboriú, trabalhava com vendas e seu irmão, na Praia do Pinhal, no Rio Grande do Sul, precisava de mercadorias. Anadírio foi levar para ele. Era uma sexta-feira, dia 3 de janeiro, quando saiu. No domingo, dia 5, fizeram um churrasco em uma lagoa de água salgada, com fundo a areia, mas igual uma pedra. Bem no finalzinho da tarde, lá pelas 17h, resolveu dar um último mergulho para depois ir embora. Pulou de um trapiche e bateu com a cabeça, vindo a quebrar as três vértebras C4 e C5 C6 e a romper a medula.

Aos 32 anos, Anadírio ficou tetraplégico. “Foi bem complicado assim nos primeiros tempos a adaptação. Não é que depois a gente vai aceitar, a gente é obrigado a acostumar. Nos três primeiros anos assim é bem desesperador sabe, porque a gente não consegue fazer nada, é totalmente dependente. Eu sempre fui uma pessoa bem ativa, não tinha dificuldade para fazer as coisas, não precisava de nada e ninguém para fazer algo para mim”, completa.

“Depois eu dar um mergulho e me ver naquela situação, digamos assim, foi desesperador. Eu estou bem agora, hoje eu digo que não estou adaptado e sim acostumado com a situação. Sei que é assim, não tem outro jeito. Eu sou uma pessoa para frente, não sou depressivo, eu aceito a situação e comigo não tem tempo ruim. Eu sigo em frente”, aponta.

Anadírio conheceu Içara através da mãe de seu filho, Murilo, em 1999, e retornou em 2012 para morar definitivamente. Sempre teve vontade de fazer alguma coisa, algum tipo de trabalho, mas por ser tetraplégico seria bem difícil de manusear alguma coisa. Quando morava em outra cidade, observou cadeirantes que vendiam bala no semáforo, mas eles eram só paraplégicos. Ele sempre teve vontade de vender balas no Centro, daí um dia teve a ideia de adaptar uma caixinha e uma mochilinha do lado da cadeira para as pessoas servirem-se e colocarem o dinheiro na sacolinha como se fosse um delivery.

Anadírio é uma pessoa pra frente e virou uma referência em Içara também como presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, um espaço de luta pela acessibilidade. Tem tantas pessoas que podem fazer tudo e sofrem de depressão. Ele não tem esse tipo de problema, gosta de levantar e já sair para o Centro conversar com as pessoas. Alguns gostam de conversar, elogiam seu trabalho e persistência. Alguns nem ficam com os doces, apenas fazem sua contribuição. Estar no Centro, trabalhando, faz sentido à sua vida. Sua disposição contagia outras pessoas.

A amiga Edimara da Silva Santos Pereira mora ao lado de sua casa. Sempre está presente na vida de Anadírio e há alguns anos auxilia no que ele precisa, encontrando cuidadores, fazendo sua comida, cuidando também quando necessário. São amigos que se tornaram muito próximos. Colocaram até campainha. Se por acaso ele precisar de algo durante a noite ou de dia nas folgas dos cuidadores, basta acionar. Mara comenta que, com o trabalho da venda de doces, a vida de Anadírio mudou muito. O fato de ver pessoas interagir trouxe um novo sentido em sua vida.

“Ele é uma pessoa para frente, mesmo assim, não deixa se abalar com nada. Se o tempo tiver ruim, ele fica em casa, ele é colecionador de dinheiro, de moedas... Se o tempo é um pouco mais frio, ele fica em casa durante o dia fazendo essa parte que ele gosta bastante. Pela Internet, comprando e vendendo e negociando. E se o tempo está bom, ele já sai cedinho de casa, volta só para almoçar e depois já saí de novo. É guerreiro. Acredito que meu pai é inspiração para muita gente. Mesmo com bastante limitação, não deixa se abater nunca, sempre para frente feliz”
- Filho Murilo Martins, filho
“Acompanhei por dois anos o Anadírio Martins como presidente do Conselho Municipal dos Direitos Da Pessoa Com Deficiência De Içara (CMDPD) na gestão 2019/2021. Para mim ele é um exemplo de superação. Com todas as suas dificuldades, ele nunca ou quase nunca deixou de participar das nossas reuniões. Fizemos vídeos, fotos durante a revitalização do Centro devido à falta de mobilidade do cadeirante, acompanhamos com o planejamento do Plano Diretor da cidade... Ele não deixa ninguém que esteja perto ficar pra baixo. Ele é alto-astral. Sempre esteve à disposição, sempre teve boas ideias, com todas as dificuldades de mobilização, ele sempre participou, nunca deixou de me atender e sempre teve um sorriso no rosto. Para mim ele é um exemplo, mesmo em uma cadeira de rodas, totalmente dependente de tudo, mas o sorriso dele é contagiante.”
- amiga Del, servidora pública municipal