Cotidiano | 29/07/2023 | 11:14
Unesc 55 anos de histórias: “Para mim a Universidade representa tudo”, enfatiza Laênio Ghisi
Ex-diretor da Fucri foi responsável pela aprovação da Carta Consulta que visava transformar a Fundação Educacional de Criciúma em Universidade
Especial de Marciano Bortolin, da Unesc
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A voz potente e inconfundível do cerimonialista e mestre de cerimônias da Unesc, Laênio Ghisi, encanta e emociona o público durante as colações de grau da Universidade. Em décadas de trabalhos prestados, ele já presenciou a transição da vida acadêmica para a vida profissional de milhares de pessoas.
Porém, as suas contribuições com a Instituição vão muito além. Ele ingressou na Fundação Educacional de Criciúma (Fucri) como aluno de Administração, passando, posteriormente, à direção da Escola de Ciências Contábeis e Administrativas (Escca), ascendendo após à direção da Fucri, contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento e crescimento da Instituição.
“Na época, a maioria dos jovens que quisesse frequentar um curso superior precisava se ausentar da cidade. Como todos trabalhavam, o sonho era ter uma Instituição em Criciúma. Eu era membro da Câmara Júnior de Criciúma que tinha como presidente o meu colega Irmão Walmir Antonio Orsi, um entusiasta da educação e incentivador daqueles que queriam estudar”, recorda.
O primeiro passo rumo à Universidade
Laênio permaneceu na Fucri, ocupando a função de diretor-presidente de 1989 a 1993, período em que deixou grande parte do seu legado. Entre as mais significativas contribuições está a aprovação da Carta Consulta, um marco importante para elevar a Fucri à categoria de Universidade. Sua visão e liderança foram cruciais para esse avanço significativo da instituição.
“Desde o início, a minha maior aspiração era transformar a Instituição em Universidade. Naquela época, as frases: ‘Universidade já!’, ‘Rumo à Universidade’”, ecoavam na mente das pessoas. Decidi então me dedicar integralmente à Fucri. Abracei todos que podiam ajudar, como por exemplo, o professor Eurico Back, que era o único doutor que tínhamos”, relata.
“Juntos, começamos a escrever o projeto de transformação em Universidade, que ficou conhecido como Carta Consulta. O entusiasmo na comunidade era contagiante, e eu sempre transmitia a convicção de que alcançaríamos o nosso objetivo”, acrescenta o ex-diretor.
Uma ajuda inesperada, mas decisiva
Na década de 1980 a região contava com uma figura de destaque em Brasília: Adhemar Ghisi, cuja trajetória política havia sido construída nas décadas anteriores na capital federal. Em 1984, sua notoriedade foi reconhecida quando o presidente da República João Figueiredo o indicou para ocupar uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU).
Enquanto isso, em viagem a Brasília, o diretor-presidente da Fucri, Laênio Ghisi levava consigo a Carta Consulta, documento crucial para a transformação da Instituição em Universidade, para ser apreciada e votada pelo Conselho Federal de Educação No entanto havia um obstáculo: o tema estava listado como o quinto item da pauta do dia, o que significava que, caso não fosse deliberado, seria adiado para o próximo encontro. E era aqui que surgia outro problema que deixava Laênio apreensivo.
“Eu estava ciente que o nosso projeto já havia entrado na pauta em outras oportunidades, mas não foi votado devido a falta de tempo. Naquele momento estávamos diante da última sessão do Conselho, pois ele seria extinto, passando a ser Conselho Nacional de Educação. Sendo o quinto item da pauta daquele dia, corríamos o risco de não ser apreciada a tempo”, recorda.
Após essa sessão, de acordo com Laênio, seria necessário aguardar a formação do novo Conselho Nacional de Educação, a nomeação dos novos conselheiros e o agendamento de uma nova reunião. “Foi nesse momento que lembrei do meu primo Adhemar Ghisi. Entrei em contato, expliquei a situação e ele prontamente me acompanhou até o Conselho”, acrescenta.
Laênio lembra que, como ministro, Adhemar Ghisi foi recepcionado pelo presidente do Conselho que lhe perguntou se ele gostaria de fazer o uso da palavra. Adhemar, por sua vez, disse que gostaria de fazer apenas um pedido: que o item passasse para primeiro item da lista porque ele gostaria de participar do debate e da votação. Só um dos conselheiros se absteve do voto porque alegou entender somente de Ensino Fundamental. “Dos demais, todos aprovaram a nossa Carta Consulta, que posteriormente foi enviada ao Conselho Estadual de Educação”, conta.
“Estou certo de que sem o Adhemar Ghisi naquele momento a Carta Consulta não teria sido aprovada. Após isso, ele foi paraninfo de uma de nossas turmas e eu, como diretor da Fucri, lhe agradeci e reconheci a importância que ele teve naquele processo”, complementa.
Desdobramentos
Laênio sabia que aquele passo ousado resultaria em desdobramentos nos anos seguintes. E essa visão se concretizou em 1991, quando uma resolução foi promulgada, promovendo a integração das quatro escolas: Faculdade de Ciências e Educação (Faciecri); Escola Superior de Educação Física e Desporto (Esede), Escola Superior de Tecnologia (Estec) e Escola Superior de Ciências Contábeis e Administrativas (Escca), criando assim a União das Faculdades de Criciúma (Unifacri), e o seu Regimento Unificado.
No mesmo ano, o processo de transformação da Unifacri em Unesc foi encaminhado ao Conselho Federal de Educação (CFE), sendo aprovado em agosto de 1992 pelo parecer nº 435/92.
Naquele momento, a competência de criação de universidades passou para o Conselho Estadual de Educação, que recebeu o projeto da Unesc em 1993, quando constituiu uma Comissão de Acompanhamento, com a função de acompanhar o processo.
“A Câmara Júnior tem um lema que no final diz: ‘servir à humanidade é a maior obra de uma vida. Aprovando a Carta Consulta em Brasília, eu sabia que haviam outros encaminhamentos, que não era só transformar em Universidade, mas penso que servimos a humanidade, pois a Unesc está presente hoje em todo Sul Catarinense com 55 anos de trabalhos comunitários”, cita.
Laênio Ghisi ocupou a direção até 1992, tendo como sucessores, o diretor-presidente Edson Carlos Rodrigues e o vice Antônio Milioli Filho, que deram continuidade ao sonho da Universidade.
Cinco grandes realizações
Além da aprovação da Carta Consulta, que mudaria o futuro da Fundação Educacional de Criciúma, Laênio Ghisi diz que cinco realizações marcaram o seu mandato. “Consegui criar o Colégio de Aplicação (CAP), que hoje é o Colégio Unesc; a bandeira; o hino; e o coral da Universidade. São cinco itens indissolúveis, pois vão existir sempre na história da Unesc e do Sul catarinense.
Crescimento contínuo
Até ingressar no curso de Administração da Fucri, Laênio atuava como locutor de rádio. “Para mim a Unesc representa tudo, uma mudança na minha caminhada de vida. Hoje, sigo na Instituição. Não só a minha vida mudou, mas de toda a região. A Instituição está em um desenvolvimento muito grande e vai seguir crescendo sempre, cada dia mais. A Unesc cumpre muito bem a sua missão que é promover o desenvolvimento regional com os seus trabalhos, projetos na Extensão, Ensino, Pesquisa, Inovação e Internacionalização”, salienta.
“O que seria do Sul catarinense sem a Unesc? A Universidade é o motor propulsor do desenvolvimento da região. Desejo que a Universidade continue crescendo”, completa.
Ainda hoje, após centenas de cerimônias de colação de grau, o ex-diretor se emociona com cada um dos eventos e das histórias de superação de quem concluiu o ensino superior. “Sou da Unesc, não sou tercerizado para ler um protocolo. Coloco muita emoção no momento e fico feliz de ver toda aquela comunidade aplaudindo, famílias abraçadas com os seus filhos pela conquista do ensino superior. Sinto-me muito feliz e emocionado em todas as vezes”, finaliza.