Economia | 15/02/2023 | 08:10
Andreia Limas: ano começa com inflação de 0,53%
Analistas projetam alta do IPCA pela nona semana seguida, mesmo com a manutenção da taxa de juros
Andreia Limas - andreia.limas@canalicara.com
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A inflação acumulada em 2022 ficou em 5,79%, pela quarta vez consecutiva acima da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, que era de 3,5%, com teto de 5%. O resultado foi influenciado principalmente pelo grupo de alimentação e bebidas. E essa tendência se manteve no primeiro mês deste ano.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro fechou em 0,53%, quarto mês seguido com alta. Assim, nos últimos 12 meses, a inflação acumulada é de 5,77%, segundo os dados do IBGE.
O aumento ocorreu mesmo com a manutenção da taxa básica de juros em seu mais alto patamar – em reunião no início de fevereiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano. E isso se refletiu no mercado, com os analistas estimando 5,79% de inflação para 2023, o que representa alta nas projeções pela nona semana seguida. Vale lembrar que a meta definida para o ano é de 3,25%.
Como equacionar?
Não faço ideia de como o Governo Federal vai conseguir equacionar essa situação, mas tenho certeza que não será com ataques à atual política monetária, como o presidente Lula tem feito nos últimos dias, com críticas ferozes à atuação do BC.
Como já comentei anteriormente, elevar as taxas de juros para encarecer o crédito e desestimular o consumo é mesmo um remédio amargo, mas que mostra resultados e é administrado também em outros países. A maior demonstração da eficácia é a comparação com os números da inflação de 2021, quando ultrapassou os 10%. O aumento na taxa de juros levou à redução desse índice quase pela metade no ano passado.
Janeiro
Voltando ao IPCA de janeiro, o grupo de Alimentação e bebidas exerceu o maior impacto positivo sobre o índice geral, contribuindo com 0,13 ponto percentual, com grande influência dos subitens batata-inglesa (14,14%) e cenoura (17,55%).
“As altas nesses dois casos se explicam pela grande quantidade de chuvas nas regiões produtoras. Por outro lado, observamos queda de 22,68% no preço da cebola, por conta da maior oferta vindo das regiões Nordeste e Sul, item que teve alta de mais de 130% em 2022”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
Transportes
O grupo dos transportes exerceu o segundo maior impacto positivo sobre o índice geral, contribuindo com 0,11 ponto percentual em janeiro, com combustíveis registrando alta de 0,68% em média, sendo 0,83% na gasolina.
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, apenas Vestuário apresentou variação negativa (-0,27%). Foi a primeira queda no grupo desde janeiro de 2021.
INPC
Abrangendo famílias com rendimentos de um a cinco salários mínimos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) teve alta de 0,46% em janeiro, abaixo do registrado no mês anterior (0,69%). Com isso, acumula alta de 5,71% nos últimos 12 meses, abaixo dos 5,93% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em janeiro de 2022, a taxa foi de 0,67%.
Setores
O IBGE também divulgou este mês o desempenho dos principais setores econômicos no acumulado de 2022. A produção industrial registrou queda de 0,7%, diante da alta de 3,9% no ano anterior. Segundo o instituto, ao longo do ano o setor industrial respondeu às medidas de incremento da renda realizadas pelo governo, como a antecipação do 13º para aposentados e pensionistas, liberação do FGTS, adoção de medidas de estímulo ao crédito, Auxílio-Brasil e auxílio concedido aos caminhoneiros, entre outros.
No entanto, essa resposta perdeu fôlego no segundo semestre e a indústria teve um comportamento de menor intensidade e com maior frequência de resultados negativos. O recuo também é explicado por fatores como a taxa de juros em elevação, que afeta diretamente os custos de crédito, além da inflação, principalmente dos alimentos, que impacta na renda das famílias e, por consequência, no consumo.
A produção industrial de Santa Catarina teve queda de 4,3%, terceira maior influência negativa no índice nacional, com o setor de têxteis (roupas de banho e fitas de tecido) como o principal fator para o desempenho abaixo da média registrada no país.
Serviços
Por outro lado, o setor de serviços fechou em crescimento pelo segundo ano seguido, com 8,3% na taxa anual, ampliando o distanciamento com relação ao nível pré-pandemia, para 14,4% acima do volume apresentado em fevereiro de 2020. Em Santa Catarina, o crescimento no setor foi de 5,4% em 2022.
Comércio
O varejo brasileiro também encerrou o ano no campo positivo, acumulando 1,0%, mas é o menor crescimento desde 2016 (-6,2%). O Estado registrou um índice ligeiramente maior: 1,1%. No varejo ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, a variação foi de -0,6% na média nacional e de 2,5% na estadual.