Economia | 06/07/2022 | 10:13
Andreia Limas: Chegou a vez do leite...
Mais um produto de primeira necessidade tem os preços em disparada
Andreia Limas - andreia.limas@canalicara.com
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Carne bovina, arroz, feijão, óleo de soja, batata, açúcar... a lista de alimentos que compõem a cesta básica e tiveram os preços em disparada no país segue crescendo. A bola da vez é o leite. Não que o produto tenha sofrido um grande reajuste agora.
Os valores cobrados dos consumidores vinham aumentando gradualmente e chegaram ao ponto de o produto de primeira necessidade ser vendido a R$ 6 o litro. E as perspectivas não são animadoras, com a possibilidade de novos aumentos.
Impostos
Em Santa Catarina, a celeuma em torno do preço do leite iniciou quando o Governo do Estado retirou o item da lista de alimentos básicos e o taxou com alíquota de 17% no Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Diante da repercussão negativa, o Executivo voltou atrás e reduziu a alíquota para 7%.
“Na época dos impostos, a caixa de leite custava entre R$ 4 e R$ 4,30. Desde então vem aumentando, em alguns lugares já é vendido a R$ 6 e ainda podem ocorrer novos aumentos”, salienta Ricardo Althoff, vice-presidente regional da Associação Catarinense de Supermercados (Acats).
Inflação
Superada a questão tributária, outros fatores pressionaram os preços para cima. “O aumento se deve à inflação e aos custos de produção, combinados com menor quantidade produzida no momento”, aponta Althoff.
Ele lembra que o leite tem uma sazonalidade e geralmente o preço aumenta no inverno porque a produção é menor. “As vacas produzem menos e a pastagem diminui, então, a alimentação delas precisa ser complementada com ração, elevando os custos de produção. Os preços dos insumos, da ração, da soja, complementos minerais e proteicos também aumentaram muito ao longo dos últimos dois anos”, ressalta.
A perspectiva é de que a situação só melhore a partir de agosto ou setembro, quando a produção voltar ao nível normal.
Produção
Segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal, realizada pelo IBGE, a produção catarinense de leite em 2020 foi de 3,1 bilhões de litros, dos quais, 2,4 bilhões produzidos na região Oeste. A mesorregião Sul é a segunda maior produtora do Estado, com 255,4 milhões de litros produzidos em 2020, o equivalente a 8,1% da produção em Santa Catarina.
No Sul, a maior produtora é a microrregião de Tubarão, com 202,7 milhões de litros produzidos em 2020 e 6,5% de participação na produção estadual, desempenho que garantiu o sexto lugar entre as maiores produtoras catarinenses. A microrregião de Araranguá ficou em 13º, após produzir 27,1 milhões de litros de leite em 2020 e obter participação na casa de 0,9% na produção catarinense. Já a microrregião de Criciúma aparece na 15ª colocação do ranking, com 25,6 milhões de litros produzidos e 0,8% de participação.
Produtores
Resta saber o quanto desses aumentos é repassado aos produtores. De acordo com relatório da Epagri/Cepa, o preço médio anual pago aos produtores por litro de leite variou de R$ 1,81 a R$ 2,04 entre 2018 e 2021.
Segundo avaliação da Epagri, a pressão de custos e a baixa rentabilidade em alguns meses de 2021 não se limitaram aos produtores de leite, atingindo em cheio também as indústrias lácteas, o que impactará negativamente sobre o desempenho da cadeia leiteira estadual e brasileira em 2022.
Carne bovina
Vale lembrar que, desde o último trimestre de 2019, foram registrados expressivos aumentos de preços no mercado da carne bovina, tanto ao consumidor quanto ao produtor. Esse movimento manteve-se no ano de 2020, principalmente durante o segundo semestre, quando, nos principais estados produtores, a arroba do boi gordo chegou a apresentar altas superiores a 60% na comparação com o ano anterior.
Os preços continuaram nas alturas em 2021 e 2022, devido à soma de diversos fatores, entre os quais, a desvalorização do real em relação ao dólar, que favorece as exportações e reduz a oferta no mercado interno.
Transporte
Ricardo Althoff cita o aumento nos preços dos combustíveis como outro fator a engordar os aumentos. “O transporte também influencia no preço final do leite, que é um produto de grande volume e baixo valor agregado”, explica.
Redução
Falando em tributação e combustíveis, Santa Catarina reduziu para 17% o ICMS sobre a gasolina, medida que vale também para o álcool carburante, além da energia elétrica e comunicação. O reajuste está alinhado a nova legislação federal.
Sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em 23 de junho, a Lei Complementar 194 estabelece limites ao ICMS sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo, ao considerar esses bens e serviços como essenciais e indispensáveis.
Repercussão
O anúncio da assinatura da medida provisória estabelecendo a redução foi feito pelo governador Carlos Moisés da Silva, via Twitter, na última sexta-feira, 1 de julho. “Temos as menores alíquotas do país e agora estamos reduzindo ainda mais para ajudar no controle da inflação”, escreveu.
No entanto, Moisés entende que a redução pode não se refletir sobre o preço final pago pelo consumidor. “Nós congelamos no ano passado o ICMS, que hoje é cerca de 9% sobre o diesel, e baixamos o ICMS de 25 para 19% na gasolina. Mesmo assim, o preço dos combustíveis não parou de subir. O problema dos combustíveis não está no ICMS e sim na política de preços dolarizada da Petrobras”, entende o governador.