Economia | 15/12/2021 | 08:27
Andreia Limas: Inflação pode fechar o ano em dois dígitos
Projeções do mercado apontam IPCA de 10,05% este ano, bem acima dos 3,75% estabelecidos como meta
Andreia Limas - andreia.limas@canalicara.com
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O Relatório Focus desta semana aponta ligeira queda nas projeções do mercado para a inflação deste ano: 0,13 ponto percentual na comparação com a semana anterior. No entanto, a perspectiva ainda é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche 2021 acima dos dois dígitos, em torno de 10,05%, superando em muito os 3,75% estabelecidos como meta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
O boletim é divulgado toda segunda-feira e resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado coletadas até a sexta-feira anterior à sua divulgação. O relatório traz a evolução gráfica e o comportamento semanal das projeções para índices de preços, atividade econômica, câmbio, taxa Selic, entre outros indicadores.
Acumulado está em 9,26%
A meta definida pelo CMN tem intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,25% e o superior de 5,25%. No entanto, o próprio Banco Central já admitiu que a meta não será cumprida.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que aponta a inflação oficial do país, acumula alta de 9,26% no ano. É mais que o dobro do registrado no ano passado, quando ficou em 4,52%.
Dentro da margem de tolerância
A meta de inflação para 2020 era de 4,0%. Assim, o índice permaneceu dentro da margem de tolerância (entre 2,5% e 5,5%). Em 2019, a inflação tinha ficado em 4,31%.
Um dos maiores impactos para os consumidores em 2020 foi a elevação de 14,09% nos preços de alimentos e bebidas, provocado por fatores como a demanda por esses produtos e a alta do dólar e dos preços das commodities no mercado internacional. A alta nos preços dos alimentos foi um movimento global gerado pela pandemia de coronavírus.
Maior variação desde 2003v
O IPCA de novembro foi de 0,95%, 0,30 ponto percentual abaixo da taxa de 1,25% de outubro e menor do que o esperado pelo mercado. Mesmo assim, foi a maior variação para um mês de novembro desde 2015, quando ficou em 1,01%.
Nos últimos 12 meses, o índice acumula alta de 10,74%, a maior desde novembro de 2003 (11,02%). Em novembro de 2020, a variação mensal foi de 0,89%.
Combustíveis
Os combustíveis seguem entre os itens que mais contribuem para a alta da inflação, liderados pela gasolina, com variação acumulada de 50,78% nos últimos 12 meses. Os preços do etanol subiram 10,53%, do óleo diesel, 7,48% e do gás veicular, 4,30% no período. Já o gás de botijão acumula 38,88% de variação nos últimos 12 meses.
Da mesma forma, os alimentos e a energia elétrica continuam a puxar o índice para cima. Vale lembrar que, desde setembro, permanece em vigor a bandeira Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 quilowatts/hora consumidos.
Riscos à economia
O próprio Banco Central reconhece que inflação baixa, estável e previsível traz vários benefícios para a sociedade. A economia pode crescer mais, com a redução das incertezas, as pessoas podem planejar melhor seu futuro e as famílias não têm sua renda real corroída.
Pensando nisso, o regime de metas para a inflação foi adotado em 1999. No desenho atual do sistema, o CMN define em junho a meta de três anos-calendário à frente – em junho de 2018, o CMN estabeleceu a meta para 2021. Após a definição, cabe ao BC tomar as medidas necessárias para alcançá-la.
Se a inflação ao final do ano se situar fora do intervalo de tolerância, o presidente do BC tem de divulgar publicamente as razões do descumprimento, por meio de carta aberta ao Ministro da Fazenda, presidente do CMN, contendo descrição detalhada das causas do descumprimento, as providências para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo no qual se espera que as providências produzam efeito.
Selic
O principal instrumento do Banco Central para conter o aumento de preços é a taxa básica de juros, a Selic. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC reduz a Selic.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, realizada na semana passada, a taxa básica de juros passou de 7,75% para 9,25% ao ano, maior patamar em mais de quatro anos.
INPC
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 0,84% em novembro, 0,32 ponto percentual abaixo do resultado de outubro (1,16%). No ano, o indicador acumula alta de 9,36% e, em 12 meses, de 10,96%, abaixo dos 11,08% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em novembro de 2020, a taxa foi de 0,95%. Também calculado pelo IBGE, o INPC se refere às famílias com renda de até cinco salários mínimos.