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Economia | 10/11/2020 | 08:00

Andreia Limas: O que temos a ver com a eleição nos EUA?

As consequências quanto à eleição de Joe Biden, que venceu Donald Trump, vão abranger diversas áreas.

Lucas Lemos - lucas.lemos@canalicara.com

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Os olhos do mundo se voltaram com expectativa para os Estados Unidos na última semana, acompanhando atentamente a eleição que definiu o próximo presidente do país para um mandato de quatro anos, com início em janeiro de 2021. Entre os brasileiros, houve até torcida por um ou outro candidato.

Mas, paixões políticas à parte, o que temos a ver com quem comandará os EUA? E de que forma isso vai interferir na nossa vida? As consequências quanto à eleição de Joe Biden, que venceu Donald Trump, vão abranger diversas áreas, no entanto, vamos nos concentrar na esfera econômica, pois esta é a razão deste espaço, tão “invadido” pela política ultimamente.

Oscilações

Inicialmente, a eleição norte-americana provocou oscilações nas bolsas de valores de todo o mundo, bem como no câmbio, algo considerado normal pelos analistas, diante de tantos interesses em jogo. A tendência, no entanto, é que ambos se estabilizem a partir de agora, com o resultado conhecido. A não ser que algum fato novo mexa com o humor do mercado.

Dólar

A leitura dos analistas é de que a cotação do dólar caia no mercado global. No Brasil, a tendência de queda foi confirmada inicialmente, mas as previsões apontam para uma desvalorização menor do que em outros países, mais graças a questões internas do que externas. Para a economia brasileira, a moeda americana nas alturas tem seus prós e contras. Numa análise rápida, favorece os exportadores, pois conseguem preços maiores, e penaliza os importadores, já que os insumos ficam mais caros. Além disso, o mercado externo aquecido reduz a oferta no mercado interno, aumentando preços e elevando a inflação.

Efeitos a longo prazo

Fora os efeitos imediatos, a eleição norte-americana terá desdobramentos também a médio e longo prazo. Porém, é difícil prever os rumos que a maior economia do mundo tomará sob o comando de Joe Biden e de como ficará o Brasil nesta história. Com linhas ideológicas parecidas, Jair Bolsonaro e Donald Trump têm feito uma aproximação desde que o brasileiro assumiu a presidência no ano passado. Mas isso não tem significado mais mercado para os produtos brasileiros nos EUA. O Brasil tem nos Estados Unidos seu segundo principal mercado, no entanto, as exportações para o país diminuíram de forma significativa, principalmente por causa da pandemia.

Defesa

Com uma crise muito maior por conta do coronavírus, Donald Trump tratou de proteger – ou pelo menos tentar – a economia norte-americana, valorizando os produtores e produtos locais. Isso refletiu na queda das importações. Por outro lado, o Brasil investiu no seu principal mercado, a China, e a demanda gigantesca do país oriental na compra de alimentos. Até por isso, alguns itens de alimentação, como o óleo de soja e a carne, tiveram uma disparada de preços no mercado interno.

Noiva cobiçada

E a China é uma “noiva cobiçada” em se tratando de comércio internacional. Apesar da guerra comercial, fomentada pela Administração Trump através da aplicação de tributos extras a produtos chineses, os dois países assinaram em janeiro um acordo comercial que prevê, entre outros pontos, o aumento na compra pelos chineses de soja produzida nos Estados Unidos, justamente o principal commodity brasileiro nas exportações para a China. Mesmo que, ao longo do mandato, Bolsonaro tenha episódios de críticas fervorosas ao país oriental, o próprio presidente reconhece a importância da China para a economia brasileira – e não é intenção do governo perder um centavo de dólar vindo de lá.

Governo Biden

Enquanto alguns apostam que Biden pode preterir a China a outros mercados, sobretudo por causa de questões ambientais, outros entendem que é possível levar o acordo adiante e mesmo ampliá-lo, com os dois países revendo a política ambiental e intensificando os negócios. Mas há algo que não se discute: o novo presidente fará de tudo para proteger os interesses de seus país, aliando-se a quem for necessário para manter a economia nos trilhos, como fez Donald Trump e os mandatários antes dele. Doa a quem doer.

Brasil

Em relação ao Brasil, Bolsonaro e sua equipe precisarão fazer a política da boa vizinhança, desfazendo o mal-estar pelo apoio aberto a Donald Trump durante a eleição e as rusgas envolvendo a preservação da Amazônia. Mais do que a questão política, estão em jogo as relações comerciais e o futuro de protocolos assinados pelos dois países.

Em outubro, foram firmados termos de acordos entre Itamaraty, Ministério da Economia e o Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês), prevendo abolição de algumas barreiras não-tarifárias no comércio bilateral: a simplificação ou extinção de procedimentos burocráticos, conhecida como facilitação de comércio, a adoção de boas práticas regulatórias e a adoção de medidas anticorrupção. Resta saber se essas medidas terão sequência no Governo Biden.