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Economia | 09/09/2020 | 07:10

Andreia Limas: Por que os alimentos aumentaram tanto?

Afinal, existem explicações razoáveis para a alta?

Andreia Limas

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Essa é a pergunta que os consumidores brasileiros se fazem, diante da disparada de preços percebida nas gôndolas dos supermercados. E estamos falando de itens da cesta básica, como óleo de soja, arroz, leite e carne bovina.

Muitos atribuem a elevação à crise do coronavírus, há aqueles que colocam a culpa nos próprios consumidores, por estocar produtos durante a pandemia, e outros entendem que a situação é agravada pelos que se aproveitam para lucrar em um momento de desespero.

Mas, afinal, existem explicações razoáveis para a alta? A verdade é que os preços são puxados para cima por diversos fatores, que incluem desde a influência da Covid-19 na economia até movimentos normais de mercado, impulsionados pela alta do dólar, por exemplo.

Soja

Difícil não se assustar ao se deparar com o óleo de soja custando quase R$ 6, quando meses antes era vendido por menos de R$ 4. Será que isso se justificaria por uma quebra de safra? Não é o caso, pois o país terá produção recorde este ano. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o volume de soja processada no Brasil em 2020 deve totalizar 44,6 milhões de toneladas, com a produção de cerca de 9 milhões de toneladas de óleo de soja, um crescimento de 3% em relação a 2019.

Menor oferta

Apesar disso, a oferta no mercado interno caiu. A entidade responsabiliza o inesperado aquecimento da demanda doméstica pela redução no abastecimento. “O cenário de limitação na oferta do óleo de soja nas gôndolas dos supermercados de algumas regiões do país é resultado de mudanças no consumo em meio à pandemia”, sustenta a Abiove, lembrando que as pessoas passaram a fazer todas as refeições dentro de casa, o que elevou o volume de compras de alimentos.

Exportações

O consumo pode até ter aumentado, porém, existe outra explicação – bem mais convincente – para a redução na oferta e o consequente aumento no preço do produto: as exportações. A China, principal compradora da soja brasileira, decidiu fazer estoques estratégicos de alimentos e a cotação do dólar, acima de R$ 5, também favorece as vendas para o mercado externo. Entre janeiro e agosto, o Brasil comercializou 30,81% a mais do produto em relação ao mesmo período do ano passado. Para a China, foram quase US$ 4 bilhões a mais, representando aumento de 26,32% no comparativo entre um ano e outro.

Carne

A oferta e o preço da carne bovina também foram influenciados pelas exportações, que aumentaram 12% no acumulado do ano até agosto, passando para cerca de 1,3 milhão de toneladas. Nesse caso, a responsável também foi a China, que elevou em 65,8% as compras no mesmo período, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Os chineses responderam por 62,4% de toda a carne bovina exportada pelos brasileiros no ano até agosto, conforme a entidade.

Entressafra

Além disso, o preço da carne bovina sofre os efeitos da entressafra, que afeta também o preço do leite. No inverno, a oferta do produto geralmente diminui, à medida em que aumentam os custos de produção, com a substituição da pastagem por ração para a alimentação do gado leiteiro. Em Santa Catarina, a produção de leite e derivados também sofreu os impactos da estiagem este ano. Somados a isso, existem outros fatores, como o aumento do consumo durante a pandemia e o dólar em alta, o que inibe a importação de leite.

Arroz

Com o arroz, a comparação dos preços médios entre abril e o começo de agosto revelou elevação de até 28%. O que se explica em parte por uma situação similar à da carne: a maior procura externa diminuiu a oferta doméstica do produto. Mas a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) aponta outro fator para a alta. “Nas últimas semanas, a indústria tem sofrido enorme dificuldade de acesso à matéria-prima, decorrente da restrição de oferta do arroz, que está concentrada em poder de poucos produtores. Esse movimento tem resultado em falta de referência para comercialização do arroz e na oscilação generalizada nos preços do cereal para cima, tanto para a indústria como para os consumidores”, afirmou a entidade em nota.

Supermercados

Embora os aumentos estejam relacionados principalmente à produção e a opção pelo mercado externo, o ônus acabou ficando com o setor supermercadista. O próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, pediu que os proprietários de supermercados baixassem os preços, por uma questão de “patriotismo”. Ora, o presidente deveria saber que esses estabelecimentos em geral apenas repassam os reajustes praticados pelas indústrias e fornecedores. E o Governo Federal precisa ir além, por exemplo, intensificando a fiscalização para coibir abusos.

Energia

O juiz federal Leonardo Cacau Santos La Bradbury, da 2ª Vara da Justiça Federal em Florianópolis, em decisão proferida na última sexta-feira, dia 4, determinou a suspensão do reajuste da tarifa de energia elétrica da Celesc, com impacto médio de 8,14% ao consumidor, até o fim do estado de calamidade pública em função da pandemia de Covid-19. A decisão atende a um pedido da Diretoria de Relação e Defesa do Consumidor (Procon) e ainda há possibilidade de recurso por parte da empresa e da Aneel. Resta saber se a determinação será estendida também à Cooperaliança, que teve reajuste médio de 10% definido pela agência reguladora, sobretudo, devido ao preço da energia adquirida junto à Celesc.