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Economia | 17/06/2020 | 09:00

Andréia Limas: Vamos dar uma voltinha pelos Estados Unidos?

Mercado norte-americano apresenta perspectiva do que pode ocorrer no Brasil

Andréia Limas

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Calma, não estou sugerindo arrumar as malas e partir mundo afora em plena pandemia. A intenção aqui é discutir o que anda acontecendo na economia norte-americana e fazer um comparativo com o Brasil. O coronavírus chegou primeiro por lá, também exigiu restrições às atividades, mas o mercado já está reabrindo e os indicadores permitem projetar um cenário futuro. É como se pudéssemos ver em perspectiva o que deve ocorrer por aqui num futuro próximo, bem mais perto da realidade do que das teorias.

Deflação e recessão
Com a economia já em recessão (os analistas acreditam numa crise pior do que a de 2008/2009), os preços ao consumidor nos EUA caíram em maio pelo terceiro mês consecutivo, algo inédito até então. Conforme os dados do Departamento do Trabalho, o índice registrou redução de 0,1% no mês passado, após cair 0,8% em abril e 0,4% em março. O indicador exclui os preços de alimentos e energia, que oscilam de mês para mês. A pandemia e as quarentenas destinadas a contê-la interromperam uma expansão recorde iniciada em junho de 2009.

Interferência
Uma espécie de Banco Central americano, independente do governo, o Federal Reserve procura manter a inflação em ritmo anual de 2%. Para impedir que a economia implodisse completamente, o Fed reduziu a zero a taxa de juros de curto prazo que controla e despejou trilhões de dólares no sistema financeiro. E sinalizou que está pronto para fazer mais. Nesta semana, anunciou que comprará títulos corporativos individuais, como parte de seu programa para manter o bom funcionamento dos mercados de empréstimos e permitir que grandes empregadores tenham acesso a dinheiro.

Comércio
As vendas no varejo dos EUA tiveram alta recorde de 17,7% de abril a maio, com o setor se recuperando parcialmente depois que o coronavírus fechou lojas, achatou a economia e paralisou os consumidores nos dois meses anteriores. O relatório do governo na última terça-feira, dia 16, mostrou que os volumes negociados recuaram em março (8,3%) e abril (14,7%), aumentando à medida em que as empresas reabriram suas portas. Ainda assim, os danos da pandemia às vendas no varejo permanecem graves, com as compras diminuindo 6,1% na comparação com o mesmo período do ano passado. Muitas empresas encerraram as atividades de vez.

Recuperação
A melhora nos indicadores do varejo pode sinalizar que a economia tenha iniciado uma recuperação lenta e prolongada. Em maio, foram criadas 2,5 milhões de vagas de emprego, um aumento inesperado, sugerindo que o mercado de trabalho superou o momento mais crítico. Mesmo assim, ainda há dúvidas entre os analistas se o aumento em empregos, nas vendas no varejo e em outras áreas será sustentado nos próximos meses ou se os índices podem voltar a cair, por exemplo, com uma segunda onda de infecções por Covid-19.

Desemprego
Os analistas alertam que alguns dos ganhos até agora provavelmente refletem o impacto da ajuda temporária do governo e o aumento dos benefícios de seguro-desemprego em face de uma recessão profunda. A taxa de desemprego é historicamente alta para os padrões do país, de 13,3%, segundo a medida padrão do governo, e de 21,2% pelo indicador mais amplo. Por enquanto, os americanos estão gastando desproporcionalmente mais em itens essenciais e menos em luxos. E os empregadores chamam apenas uma parte de seus funcionários demitidos para reabrir parcialmente os negócios. Sem os quase US$ 3 trilhões em ajuda governamental distribuídos, a taxa de desemprego seria ainda maior. Pouco mais da metade da ajuda financeira foi dada a famílias e empresas, mantendo trabalhadores empregados, hipotecas e aluguéis pagos e muitas contas atualizadas.

Incerteza
A tendência é tão difícil de definir que, em uma entrevista coletiva na semana passada, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, usou as palavras "incerto" ou "incerteza" sete vezes para descrever as perspectivas para a economia. Segundo ele, o tamanho da crise e o ritmo da recuperação vão depender, sobretudo, do sucesso em conter o avanço do vírus.

No Brasil...
Pressionado pela queda de 4,56% nos preços dos combustíveis, o Brasil registrou deflação de 0,38% em maio, após o recuo de 0,31% em abril. É o segundo mês consecutivo de queda nos preços e o menor índice desde agosto de 1998, quando ficou em -0,51%. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado do ano, o índice registrou queda de 0,16%. Já nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 1,88%, abaixo da meta de inflação de 4% do governo para 2020, que tem tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Consumo
Em relação às vendas no comércio varejista, houve queda de 16,8% em abril, na comparação com o mês anterior, refletindo os efeitos do isolamento social para controle da pandemia de Covid-19. É o pior resultado desde o início da série histórica, em janeiro de 2000, e a segunda queda consecutiva, acumulando uma perda de 18,6% no período. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada nessa terça-feira, dia 16, pelo IBGE. O recuo nas vendas no varejo atingiu, pela terceira vez desde o início da série, todas as oito atividades pesquisadas.