Economia | 06/05/2020 | 08:43
Como o setor de eventos pode fugir da quebradeira?
Andréia Limas
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Reitero que não discutimos aqui a validade para a área da saúde das restrições adotadas pelo Governo do Estado, na tentativa de barrar o avanço do coronavírus em Santa Catarina, mas é preciso ter clareza sobre as consequências que essas medidas geram na economia, até para se pensar juntos em alternativas para diminuir os impactos. Por exemplo: como o setor de eventos pode fugir da quebradeira, estando há quase dois meses paralisado por conta do isolamento social?
E estamos falando de um setor que reúne não só os promotores, mas uma extensa gama de profissionais, sobretudo terceirizados, que perderam sua fonte de renda com o cancelamento de festas, feiras, congressos, shows, campeonatos esportivos e afins. O problema vai além dos dois meses sem faturamento: o primeiro semestre já é considerado “morto”, devido aos cancelamentos, adiamentos e suspensões. Além disso, existe a preocupação de que o segundo semestre não terá datas suficientes para acomodar todos os eventos. E isso se eles estiverem liberados até lá.
Pesquisa
O cenário de incertezas envolve contratos suspensos, ajustes para manutenção de equipes, negociação com fornecedores e discussão de novos calendários. Diante desse quadro, a Fecomércio SC, em parceria com o Blumenau e Vale Europeu Convention & Visitors Bureau e a Associação Blumenauense de Turismo, Eventos e Cultura (Ablutec), realizou sondagem para apurar os impactos da pandemia nesta cadeia produtiva, que envolve empresas de diferentes segmentos – de serviços de montagem de estruturas a alimentação e logística.
Universo
A sondagem on-line, realizada entre os dias 3 e 13 de abril, traz o perfil das empresas entrevistadas, reflexos no setor, status das negociações com clientes e fornecedores, novas práticas sanitárias, mudanças no comportamento dos consumidores e a perspectiva do setor. Foram entrevistados 28 empresários do setor de organização de eventos com empresas em diversas cidades de Santa Catarina ou que atuam no Estado.
Negociação
Os números mostram que a negociação é a tônica do momento. Conforme a sondagem, a maior parte (47%) dos eventos foram remarcados com clientes para o próximo semestre; não tiveram agendamento de nova data (22%); serão realizados assim que for permitido (19%); ou foram marcados para o próximo ano (11%).
Avaliação
Para o presidente da Fecomércio SC, Bruno Breithaupt, é hora de repensar os custos fixos, utilizar a tecnologia como aliada, como as plataformas para transmissão on-line, e ter um planejamento financeiro bem estruturado para sobreviver em tempos de recessão. “Para evitar o efeito cascata nesse mercado, que trabalha basicamente com prestadores de serviços terceirizados, o empresário deve optar pelo reagendamento do evento quando possível, negociar prazo de pagamento de financiamento, flexibilizar contratos com parceiros e manter o networking ativo”, avalia.
Demissões
Mais da metade das empresas estão prevendo ajustes no quadro de funcionários, entre demissões/suspensão de contrato de trabalho e concessão de férias individuais, empatados com 24%, compensação de horas (21%), redução de jornada com redução de salário (18%), concessão de férias coletivas (12%) e trabalho remoto (3%).
Brasil
Outra pesquisa, em nível nacional, mostra que 98% da companhias do mercado foram impactadas, entre 2.702 empresas ouvidas. O levantamento mostra ainda que, entre as entrevistadas, houve uma média de 12 eventos cancelados por empresa. O estudo foi realizado pelo Sebrae, em parceria com a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc) e a União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe), entre os dias 14 e 22 de abril. “O setor de eventos atua sempre em cadeia, são muitos fornecedores envolvidos. Assim, cada evento cancelado impacta pelo menos outras dez empresas”, comenta Carlos Melles, presidente do Sebrae.
Retomada
Para a recuperação de tamanho prejuízo, a pesquisa apontou que 34% estimam que levará de sete meses a um ano para retomar o negócio após o fim do isolamento. Outras 33%, mais otimistas, acreditam que levará menos de seis meses, sendo que 24% esperam retomar as atividades em patamares anteriores de imediato. Com uma média de sete eventos remarcados para o período pós-quarentena, 51% das empresas optaram pelo trabalho on-line e 33% deram férias aos trabalhadores. Outras 43% dispensaram funcionários, enquanto 64% disseram que não pretendem fazer demissões nos próximos três meses.
Medida Provisória
Tendo em vista os efeitos da crise no turismo e na cultura, o presidente Jair Bolsonaro editou a Medida Provisória 948 para proteger empresas do setor. O texto, produzido pelo Ministério do Turismo, em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, prevê que os prestadores de serviços ficam dispensados de reembolsar imediatamente os valores pagos pelos consumidores por reservas ou eventos, shows e espetáculos cancelados.
Alternativas
A MP apresenta três cenários distintos para casos de cancelamento: a possibilidade de remarcação, a disponibilização de crédito para uso futuro ou acordo a ser formalizado com o consumidor para restituição dos valores. São contemplados pela medidas meios de hospedagem, agências de turismo, transportadoras turísticas, organizadoras de eventos, parques temáticos e acampamentos turísticos no quesito de prestadores de serviços. No setor cultural, a medida vale para cinemas, teatros, plataformas digitais de vendas de ingressos pela internet, artistas (cantores, apresentadores, atores, entre outros) e contratados pelos eventos.
Mais ações
Para o empresários do setor, no entanto, são necessárias outras ações, como financiamentos a fundo perdido, com juros menores ou a juros subsidiados; abertura de novas linhas de crédito e postergação no pagamento de impostos. Além da retomada das atividades, ainda que em escala bem menor e com regras específicas em relação à higiene e distanciamento social.