Economia | 02/08/2012 | 08:01
Diversificação é a saída para a agricultura
Especial de Samira Pereira, do Jornal da Manhã
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Em uma época que a monocultura ainda monopoliza grande parte dos estabelecimentos rurais, um agricultor, em especial, resolveu transformar sua propriedade em um modelo para os demais. A mudança de pensamento de Orivaldo Turossi, de Morro da Fumaça, aconteceu há cerca de oito anos, quando ele recebeu uma multa bastante alta por ter desmatado parte da propriedade. “Eu vim de Timbé do Sul em 1995 e era muito desinformado. Cometi o erro de cortar muitas árvores das minhas terras e recebi uma multa federal. Depois disso, percebi que degradar a natureza não era o melhor caminho e que eu precisava diversificar”, coloca.
Dos 20 hectares de terra que possui, somente três são utilizados para a plantação e pastagens. O restante é de mata nativa, preservação permanente e reserva legal. É nesse pequeno pedaço de terra produtiva que Turossi trabalha com a esposa. E é de lá, também, que tira cerca de R$ 400 por dia. O motivo da renda é a diversificação dos produtos e os projetos realizados em parceria com a Epagri e com algumas ONGs. “Dinheiro para incentivar o trabalho no campo tem sobrando, o que falta é o agricultor saber como ir atrás e conquistar. Nós encontramos muitas portas fechadas pelo caminho, mas que são fáceis de abrir”, informa.
A propriedade que se tornou modelo tem, hoje, 50 mil pés de verdura, de 11 variedades, divididas em longos canteiros. “Todos os dias nós plantamos e colhemos alguma coisa. Tem que ter muito planejamento e não cultivar em excesso. Não adianta eu plantar tudo de uma vez se depois não vou ter pra quem vender”, revela. De lá são colhidos cerca de cinco mil pés de verdura mensalmente, que abastecem os supermercados e feiras da região.
Mas não só de verduras vivem os três hectares plantados. Entre uma cultura e outra, podem ser encontrados, também, três mil pés de frutas, divididos em 60 variedades. Laranja, uva, fruta do conde, caqui, figo, maracujá, goiaba e várias outras espécies estão espalhadas pela propriedade. “Antes, eu era um agricultor desinformado, plantava praticamente só fumo porque achava que era a melhor solução. Mas percebo que não é. Temos que investir na diversificação, só assim para o produtor rural conseguir se manter nesse meio. A partir do momento em que resolvi mudar, as portas começaram a se abrir cada vez mais. Existem muitos projetos por aí, basta ir atrás”, informa.
Conforme o engenheiro agrônomo da Estação Experimental de Urussanga, Ademar Brancher, uma das maiores batalhas da Epagri é a diversificação das propriedades rurais. “O Turossi plantava praticamente só fumo e nós o incentivamos a mudar. Temos projetos que auxiliam esses produtores, mas para que eles sejam colocados em prática depende da vontade do agricultor e do escritório local”, afirma. Para Brancher, esse tipo de parceria é bom tanto para a Epagri, que não precisa entrar com a mão-de-obra, quanto para o produtor, que em alguns casos ganha o material e a assistência técnica necessária.
“Mas é importante lembrar que não fazemos isso com qualquer pessoa que queira, porque nossa intenção é pesquisar variedades que sejam promissoras e que tenham potencial para se tornar uma cultura comercial. Realizamos este tipo de parceria para ver se a planta de adapta ao clima e em quais altitudes mais se dá bem. A propriedade vai servir para pesquisa e, depois, como uma unidade de visitação”, alega. “O problema do produtor é que ele não é persistente. Ele nada, nada e morre cansado. Mas as novidades sempre surgem, a gente vai ganhando tempo, facilitando cada vez mais a vida no campo. Quem quer, tem como trabalhar e se desenvolver cada vez mais”, garante Turossi.
Como ficou conhecido por ser um produtor modelo e diversificado, outras novidades estão prestes a ser implantadas na propriedade de Turossi. A primeira delas é a criação de animais silvestres, para evitar a extinção de algumas espécies. Entre elas se destacam o cateto, a queixada, a capivara, a cutia e a paca. Os animais serão colocados onde hoje estão algumas verduras. “Tudo deve ser plantado com rotatividade. A terra é igual à alimentação, se a pessoa comer só carne, ela morre”, diz o produtor.
Também na localidade estão brotando os primeiros mil pés de copos de leite coloridos. Além disso, no terreno foram plantados 50 mil pés de palmito Jussara, sendo 20 mil melhorados geneticamente. A intenção é trabalhar com a espécie e, num futuro próximo, colocar na propriedade uma unidade de beneficiamento do palmito.