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Jornal Gazeta

Economia | 03/08/2016 | 09:49

Empresas revelam como enfrentam a crise

Especial do Jornal Gazeta

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Embora com a crise o país esteja atravessando um momento delicado, estamos conseguindo passar por ela sem ter que reduzir o quadro de pessoal. Devido ao bom planejamento que foi realizado, estamos conseguindo manter o número de funcionários”. Essa declaração é do diretor-presidente da rede Giassi Supermercados, Zefiro Giassi, e ajuda a explicar as decisões que precisaram ser tomadas pelos empresários para seguir com o volume de negócios mesmo em tempos de recessão.

Um dos principais representantes do ramo em Santa Catarina, Giassi destaca o planejamento como item fundamental para que uma empresa possa superar as oscilações da economia e períodos turbulentos como o atual, que já ocasionou o fechamento de empreendimentos dos mais diversificados segmentos. “E não há a intenção de demissões”, frisa.

De acordo com o supermercadista, a retração econômica ganhou força em meados de 2015, mas a rede já havia se preparado anos antes para enfrentá-la. “Há muito tempo estava indicando que haveria uma crise e por isso começamos a nos preparar para esse momento. Mesmo quando muitas pessoas ainda duvidavam de crise, nós utilizamos a frase de que ‘toda pessoa preparada se torna forte’. E foi assim que aconteceu. Tornamos-nos fortes e estamos conseguindo passar por este momento”, pontua.

Como ponto utilizado como precaução, já realizado antecipadamente, Giassi apresenta os cortes considerados como desnecessários. “Por ser uma época difícil, tivemos que fazer um plano de contenção, para evitar quedas nas receitas e também evitar cortar o número de funcionários, para que pudéssemos manter um bom atendimento. Entre os cortes de gastos, estão, por exemplo, as viagens com carros, que somente se faz quando realmente necessário, quando não há a possibilidade de que seja de forma mais econômica”, aponta o empresário.

Mesmo diante de todo este cenário de crise, Giassi comenta que as vendas se mantiveram estáveis. “Não tivemos de fato um crescimento, porque o que há de elevação nas vendas acompanha a inflação. Porém, o que se constata, é que conseguimos manter o equilíbrio, entre vendas e inflação, o que para nós é um motivo com certeza a ser comemorado”, apresenta o supermercadista.

Quanto à perspectiva do cenário econômico nacional, o empresário crê em uma evolução. Porém, na avaliação dele, não será logo. “Acredito que em 2017 deva continuar difícil, assim como foi este ano. Mas acredito que em 2018 o mercado possa reagir. Muito depende das medidas econômicas que serão tomadas, para que se tenha uma motivação. O povo depende de um otimismo para fazer o país voltar ao caminho do crescimento”, considera.

Embora em período delicado na economia, Giassi ressalta alguns investimentos que estão sendo efetuados pela rede, entre elas, a reforma e ampliação da loja de Tubarão e o início de outro supermercado em Jaraguá do Sul. “Quando se está retraído, tem que haver cautela, porém não se pode ficar parado. Deve-se achar um meio de se motivar”, justifica o empresário.


“Fazer o dever de casa”, indica empresário

No ramo têxtil, o empresário Joi Luiz Daniel, da Pop Lavanderia, comenta também sobre os esforços para manter o quadro de pessoal. Assim como Zefiro Giassi, ele coloca como ponto crucial evitar os gastos que não sejam realmente necessários.

“O principal é a manutenção do número de funcionários. Não se busca desmanchar a equipe porque sabemos que, quando isso acontece, se prejudica bastante os trabalhos realizados. Estamos fazendo o possível para segurar a equipe técnica”, elenca o empresário.

Ele pontua que, sem crescimento no faturamento, para que seja possível manter os postos de trabalho e os serviços prestados é necessário encontrar formas de economizar. “Temos é que fazer o dever de casa. Tudo que pode ser evitado, a gente evita. Não adianta somente ficar à espera da melhora do cenário, tem que começar pela gente”, defende. “Isso somente comprova que o empresário sempre deve estar preparado para tudo que ocorre, porque se agora está ruim, amanhã pode melhorar e tem que aproveitar o momento”, acrescenta.

Quanto ao retorno de uma econômica positiva, ele apresenta confiança. “Tenho vislumbrado que em 2017 já vamos ter a recuperação do mercado. Estou bastante confiante. Já se vê algumas situações que apresentam a economia retornando ao caminho certo, do crescimento. A aposta é de que o mercado melhore”, coloca Daniel.

O proprietário da Pop Lavanderia, no entanto, cita um ponto que auxiliou no desenvolvimento dos trabalhos do seu segmento. “Conseguiu manter-se principalmente quem trabalha com os magazines. Em função da queda da importação de produtos chineses, optou-se pela mão de obra interna”, explica o empresário.


Inovação para não sumir no mercado

Vice-presidente da Tintas Farben e presidente do Sindicato das Indústrias Químicas do Sul Catarinense (Sinquisul), Edilson Zanatta defende que, em momentos de crise, as empresas devem inovar. Essa é uma alternativa para que seja possível assegurar participação no mercado.

“De uma maneira geral, o que as empresas estão procurando é readequar os seus produtos para este momento que o país passa. Como por exemplo, o que se faz é realizar o lançamento de novos produtos. Isso faz com que se crie um impacto no mercado e então haja uma motivação e uma movimentação extra, para que aquele produto seja procurado”, expõe Zanatta.

Ele frisa também quanto à gravidade do quadro econômico nacional. “A gente previa uma crise, mas a envergadura que tomou foi muito maior do que se imaginava. As empresas estavam muito ligadas a algumas situações, mas devido à amplitude que a crise tomou, acabou atingindo áreas em que não havia o planejamento”, diz.

Em alguns empreendimentos, houve a necessidade de realizar demissões. Este é o caso, por exemplo, da Tintas Farben, que se viu obrigada a reduzir o número de funcionários em aproximadamente 15% entre o início de 2015 e agosto de 2016. “As empresas têm que olhar mais para dentro de si. Além de buscar inovar, houve obrigação por buscar ações que reduzissem alguns gastos”, frisa.

Mesmo com a instabilidade econômica, porém, a empresa aposta em investimentos. “Esses investimentos não acontecem da mesma forma que um ano e meio atrás, mas a gente vê como necessidade, para se ter ganho com produtividade, com operações. É com os pés no chão, mas é necessário realizar melhorias de layout, de questões se segurança, entre outros itens”, elenca o empresário.

Para o vice-presidente da Tintas Farben, a confiabilidade de evolução no cenário é requisito básico para que a economia passe a progredir. “O cenário é bastante turbulento, mas se vê que começa a ter alguns sinais, como entrada de capital externo. O nível de confiabilidade deve aumentar a partir do momento que houver uma definição quanto ao processo de impeachment da presidente (da República) Dilma Rousseff”, finaliza.


Momento de aproveitar as oportunidades

A Budny Tratores trabalha diretamente com equipamentos agrícolas. Conforme o presidente da empresa, Luiz Carlos Budny, diante da crise, o reflexo foi imediato, principalmente em relação às linhas de crédito. Financiamentos que eram realizados com frequência aos compradores, como por exemplo através do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), acabaram reduzidos.

“Como trabalhamos diretamente com recursos subsidiados pelo governo e houve uma retração quanto aos valores que são oferecidos, consequentemente isso afetou diretamente as vendas”, informa o empresário.

Porém, para Luiz Carlos Budny, a crise é avaliada como um momento para aproveitar as oportunidade. De acordo com ele, situações como a atual obrigam as empresas a passar por um processo de qualificação, tanto institucional quanto de profissionais, para que seja possível manter o ritmo, mesmo com as perdas necessárias. “O pós-crise é um momento de amadurecimento para que posteriormente possamos fazer mais com menos”, analisa.

“Em um momento de crise, pode-se demitir 100 funcionários. Mas, ao voltar ao crescimento, será possível recontratar metade daquele número, porque se aprendeu a trabalhar melhor com menos pessoal”, acredita. “Infelizmente, a crise afeta diretamente o trabalhador, mas ao mesmo tempo, faz com que o profissional amadureça e busque se aperfeiçoar”, completa.

Além da redução de pessoal, Budny apresenta outras ações empreendidas para conseguir superar este momento da economia. “Tivemos cortes em marketing e também em participação em eventos como em feiras, restringindo às principais”, afirma.



Mineradoras à espera de mais demanda

O retorno da economia aos caminhos do desenvolvimento é aguardado também pelas indústrias carboníferas. Conforme o diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina (Siecesc), Márcio José Cabral, enquanto isso não se verifica, as empresas adotam a política de reduzir custos.

“Seja com quadro de funcionários, seja com transporte, ou com outras situações, mas as empresas estão apresentando esta necessidade para que possam manter os seus serviços. Têm que reduzir para que possam se adequar a este novo momento, assim preservando o fluxo de caixa. Esta é a única forma de se manter em funcionamento”, avalia.

O Siecesc representa seis mineradoras. E o sucesso dessas empresas interfere diretamente no desempenho econômico das cidades onde estão instaladas. “Há um aporte na região de cerca R$ 50 milhões e este é um dinheiro que fica quase que todo aqui, pois tudo que é comprado vem daqui, além do retorno através do imposto sobre extração mineral”, aponta o diretor-executivo.

Com a economia voltando a crescer, se prevê maior uso de energia elétrica. Isso acontecendo, então deve ser necessária maior extração de carvão. Esta é a perspectiva para melhora do setor de mineração. “Dependemos muito do consumo de energia. E ele voltará a aumentar assim que o país estiver em pleno crescimento”, aposta Cabral.