Jornal Gazeta
Economia | 15/04/2020 | 07:13
Estamos comendo menos feijão com arroz
Andréia Limas
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Como ninguém mais aguenta ouvir falar sobre a pandemia de coronavírus e seus impactos na vida de cada um de nós, proponho uma trégua, para analisarmos outros números referentes à economia – e alguns deles são bastante interessantes. Um exemplo vem da constatação de uma pesquisa do IBGE: estamos comendo menos feijão com arroz.
A dupla clássica na alimentação do brasileiro teve uma redução considerável nas quantidades adquiridas no consumo domiciliar, segundo uma análise histórica do módulo Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de Alimentos da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017/2018. Em 15 anos, a quantidade média per capita anual de feijão caiu 52%, variando de 12,394 quilos, na edição 2002/2003 da pesquisa, para 5,908 quilos em 2017/2018. Já a quantidade de arroz caiu 37% nesse período, indo de 31,578 quilos para 19,763 quilos.
O que explicaria isso?
Embora a variação de preços e da renda possam ter influência direta, a explicação para a queda no consumo desses dois alimentos não deve ser creditada apenas ao poder de compra. Para o analista da pesquisa, José Mauro de Freitas, pode haver múltiplas causas para explicar essa redução, como o aumento da importância da alimentação fora de casa e as mudanças de hábitos alimentares.
Mais quedas
Assim como o feijão e o arroz, outros produtos também tiveram uma queda relevante. A farinha de mandioca (2,332 quilos por pessoa/por ano), por exemplo, teve sua aquisição média per capita caindo em 70% entre a POF 2002/2003 e 2017/2018, enquanto a farinha de trigo caiu 56% no mesmo período. Esses foram os produtos que apresentaram o maior percentual de queda. Já o leite teve uma redução de 42%, indo de 44,405 litros para 25,808 litros.
Ovos
Por outro lado, alguns produtos se destacaram no aumento de suas quantidades per capita média adquiridas. E o principal exemplo é o ovo, cujo consumo no país cresceu nada menos que 94% no período, impulsionado pela onda fitness e por uma mudança de percepção da sociedade em relação ao alimento, que, de acordo com o pesquisador do IBGE, não era considerado saudável na época em que a POF 2002/2003 foi feita. Sem falar em sua capacidade de substituir as carnes em tempos de alta de preços.
Região Sul
Ainda conforme a pesquisa, a região Sul do país apresentou médias acima da nacional e das outras regiões para sete dos 17 grupos de alimentos, com destaque para laticínios (48,271 quilos), frutas (31,931quilos), hortaliças (31,333 quilos) e carnes (25,566 quilos).
Inflação
O IBGE também divulgou neste mês o índice alcançado pela inflação em março, fechando assim os três primeiros meses do ano. Conforme os dados, o percentual desacelerou para 0,07% no mês passado, depois de registrar alta de 0,25% em fevereiro e de ficar em 0,21% em janeiro, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esse é o menor resultado para o mês de março desde o início do Plano Real, em julho de 1994. No ano, o indicador acumula alta de 0,53% e, nos últimos 12 meses, 3,30%.
Quarentena
O IPCA mostra que comer em casa ficou mais caro. Os preços do grupo alimentos e bebidas aceleraram de 0,11% em fevereiro para 1,13% em março, sobretudo por conta da alimentação no domicílio, um reflexo da quarentena. Outro indicativo vem do grupo dos transportes, que teve queda de 0,90%, com mais um recuo nos preços das passagens aéreas (-16,75%) e dos combustíveis (-1,88%). Todos os combustíveis caíram em março: etanol (-2,82%), óleo diesel (-2,55%), gasolina (-1,75%) e gás veicular (-0,78%).
INPC
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), referente às famílias com rendimento monetário de um a cinco salários mínimos, variou 0,18% em março, contra 0,17% em fevereiro e 0,19% em janeiro. No acumulado do ano, o INPC variou 0,54% e, nos últimos 12 meses, teve alta de 3,31%.
Desocupação
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já fechou os números de outros indicadores nos dois primeiros meses do ano. Entre eles, a taxa de desocupação no país, medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). Conforme os dados, a taxa de desocupação subiu para 11,6% no trimestre encerrado em fevereiro, atingindo 12,3 milhões de desempregados. O aumento, na comparação com o trimestre terminado em novembro (11,2%), interrompeu dois trimestres seguidos de quedas estatisticamente significativas no desemprego. A taxa de desocupação continuou caindo na comparação com o trimestre encerrado em fevereiro de 2019, quando ficou em 12,4%.
Informalidade
Já a taxa de informalidade caiu de 41,1% no trimestre de setembro a novembro de 2019 para 40,6% no trimestre encerrado em fevereiro deste ano, mas ainda representando um total de 38 milhões de informais. Nesse grupo estão os trabalhadores sem carteira, trabalhadores domésticos sem carteira, empregadores sem CNPJ, os conta própria sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares. Ainda de acordo com a PNAD Contínua, o total de pessoas fora da força de trabalho chegou a 65,9 milhões, patamar recorde desde o início da pesquisa, no primeiro trimestre de 2012. São pessoas que não procuram trabalho, mas que não se enquadram no desalento (pessoas que desistiram de procurar emprego). Os desalentados somam 4,7 milhões, quadro estatisticamente estável em ambas as comparações.