Economia | 07/03/2013 | 07:45
Instabilidade faz carvão crescer
Especial de Francieli Oliveira, do Jornal da Manhã
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O carvão foi um dos maiores impulsionadores da economia do Sul do Estado. O grande auge foi na década de 80, mas aos poucos a extração foi perdendo força e, atualmente, não lidera mais os índices econômicos da região. Porém, a instabilidade energética vivenciada pelo país nos últimos meses traz uma nova esperança para o setor. De novembro para cá, a venda do mineral vem aumentando em 10 mil toneladas ao mês, o que traz a certeza de que 2013 será um dos melhores dos últimos anos.
O que todos ligados ao setor esperam é que a presidente Dilma Rousseff (PT) inclua o carvão no leilão de novas energias. Se concretizado, o fato viabiliza a instalação da Usina Termelétrica Sul Catarinense S/A (Usitesc), em Treviso.O engenheiro de minas e assessor técnico do Sindicato da Indústria de Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina (Sisesc), Claudio Benetton Zilli, explica que a maior parte do carvão extraído na região de Criciúma é vendida para a Tractebel, em Capivari de Baixo. “Existe um contrato já pré-estabelecido e a venda é de no mínimo 200 mil toneladas de carvão ao mês”, enfatiza Zilli.
Como o Brasil vive um período de instabilidade energética devido ao baixo volume de chuvas, principalmente na região Centro-oeste e Sudeste, o governo brasileiro se viu obrigado a buscar a energia no carvão mineral. “Em função dessa demanda houve um aumento na compra”, lembra o engenheiro. Até novembro do ano passado, a compra de carvão da região estava estabilizada em 200 mil toneladas. “A partir de dezembro começou aumentar em 10 mil toneladas a cada mês, em fevereiro foram comprados 230 mil toneladas, e para março já está programada a compra de 240 mil toneladas”, explica Zilli.
“A compra do mês de abril ainda não está firmada, mas o que corre nos bastidores é que continuará com o aumento de 10 mil toneladas ao mês, se estabilizando em 260 mil toneladas até o fim do ano”, afirma. Essa é uma estratégia do Governo Federal para que os reservatórios das hidrelétricas aumentem para que não ocorra a instabilidade energética em 2014. “Para o ano de 2013 está praticamente certo o aumento na compra do carvão, o que não conseguimos prever é o ano de 2014”, relata o engenheiro.
No Brasil, o carvão mineral é encontrado somente na região Sul, com concentração na região de Criciúma e no Rio Grande do Sul. No Estado do Paraná a reserva é muito pequena. Os gaúchos possuem uma reserva de aproximadamente 29 bilhões de toneladas, enquanto em solo catarinense a reserva é de cerca de 2,5 bilhões de toneladas. O suficiente para garantir a extração por muitos anos. “No ritmo atual temos carvão para os próximos 100 anos”, revela o engenheiro. De toda energia produzida no país, apenas 1,2% é proveniente do carvão mineral. “Hoje poderíamos chegar tranquilamente a 5%”, projeta Zilli.
Os políticos do Sul de Santa Catarina levantam novamente a bandeira em prol do carvão mineral. A promessa é de unir forças com os políticos do Rio Grande do Sul e pressionar o governo Dilma a realizar o leilão A-5. O presidente da Assembleia Legislativa, Joares Ponticelli (PP), assumiu a bandeira ao tomar posse como o maior líder entre os deputados estaduais. O deputado garantiu que será uma das primeiras ações e chegou a classificar o carvão como o “nosso pré-sal”.
Quem também discursa a favor do carvão é o deputado estadual Valmir Comin. De acordo com o parlamentar, o que está faltando é o Governo Federal colocar o carvão mineral na sua agenda e dar tratamento, no mínimo, igualitário a outras fontes energéticas, inclusive abrindo espaço para a participação nos chamados leilões A-5 da Petrobrás, que trata da aquisição de energia. “O Governo Federal é que deveria ser o grande promotor, o incentivador do uso do carvão mineral, mas isso não ocorre, chega a ser surpreendente”, afirma o parlamentar, lembrando que a matriz do carvão atualmente aproveitado no país é de apenas 1,2%, quando na China é de 80% , de 54% nos Estados Unidos, de 49% na Alemanha e de até 98% na Polônia.
O município de Treviso foi destaque no Brasil ao ser apresentado no “Globo Repórter” com modelo para a qualidade de vida da população. O prefeito João Réus Rossi, o Juca (PMDB), conta que muito da qualidade de vida dos trevisanos se deve ao carvão. Atualmente, a extração do mineral é responsável por 75% a 80% da receita do município. “Concretizando a vinda da Usitesc haverá um grande salto não só na economia de Treviso, mas de toda a região”, destaca o prefeito. “O carvão é o que nos dá a estabilidade econômica, que proporciona a qualidade de vida”, complementa.
Na visão do prefeito, a instalação da Usitesc será tão impactante economicamente que mudará a história do município. “Tenho certeza que a história de Treviso ficará dividida em antes e depois da Usitesc”, reflete. Atualmente, o setor emprega em toda a Região Carbonífera cerca de quatro mil trabalhadores. Somente em Treviso são quatro minas e mais uma a ser instalada.
O setor carbonífero sempre sofreu fortes críticas devido à poluição ambiental. O que garantem os técnicos do setor é que, com o passar do tempo, os meios de extração evoluíram, e a extração consegue ser sustentável. O prefeito de Treviso coloca que os danos ambientais no município são reflexos do passado. “Hoje há um forte controle por parte do Ministério Público e dos órgãos ambientais, e a exploração é feita de maneira que não agride o meio ambiente”, coloca Juca.
Comin frisa também que os modernos recursos tecnológicos garantem o aproveitamento do carvão mineral de modo mais seguro ao meio ambiente. “Os subprodutos do carvão mineral, por sua vez, atendem a inúmeros setores produtivos, como a produção de fertilizantes, com aproveitamento do sulfato de amônia, e a utilização das cinzas para produção de cimento. Em Santa Catarina, cada saco de cimento possui cerca de 45% de cinzas de carvão mineral. Mas os subprodutos podem servir ainda a automóveis, aviões e até foguetes”, lembra o parlamentar.
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