Economia | 26/04/2013 | 09:03
Pescadores do Sul clamam por mudanças
Especial de Daniela Soares, do Jornal da Manhã
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Acumulando insatisfações ao longo dos últimos anos, pescadores artesanais do Litoral Sul uniram forças em protesto na manhã de ontem. Durante 20 minutos, o grupo bloqueou a BR-101 na localidade de Barranceira, a 500 metros do trevo de acesso a Laguna. Com canoas e cartazes, aproximadamente 200 trabalhadores e familiares promoveram mais do que uma manifestação. Para eles, a ação foi um alerta a provável extinção do sustento de centenas de catarinenses. “Meu pai foi o primeiro pescador da comunidade, e eu segui a atividade. Hoje vejo meus filhos saírem para trabalhar na cidade, quando poderiam viver na praia”, lamentou o presidente da Associação de Pescadores de Balneário Arroio do Silva, Antônio Carlos Borges.
De acordo com o secretário da Federação das Associações dos Pescadores Artesanais de Santa Catarina, Pedro Guerreiro, a cada ano, novos empecilhos somam-se à pesca artesanal, acarretando em prejuízos constantes e no abandono da atividade. “As portarias e normativas do governo estão impondo mais dificuldades. A concorrência com a pesca industrial é muito desleal”, salientou.
Entre as reivindicações da categoria, Guerreiro destacou a antecipação do fim do defeso, do dia 15 de maio para o dia 1º. “Se a abertura da pesca da tainha fosse antecipada, já seria muito melhor. Na safra passada, os pescadores artesanais do Estado todo pescaram apenas 500 toneladas de tainha. E de uma só vez, uma traineira industrial pesca 900 toneladas”, relatou.
A categoria também clama por intensificação da fiscalização da pesca industrial, já que muitos barcos invadem áreas específicas ao trabalho artesanal, além de uma legislação mais incentivadora. “Muitos pescadores compraram canoas com financiamento do Pronaf e agora o governo cria uma portaria exigindo que elas sejam menores. Do jeito como estamos, só pegamos peixe se ele vier na praia. Tem ano que não conseguimos molhar a rede”, desabafou o pescador de Laguna, Antônio Alexandre da Máfia, que pesca também no Balneário Rincão.
Quase que como uma herança, Domingos da Silveira presenteou o filho Lédio com os conhecimentos da pesca, concentrados na Barra de Ibiraquera, em Imbituba. Ele já contabiliza mais de cinco décadas de atuação profissional, mesclando boas lembranças e tristes perspectivas. “Tinha ano que se pegávamos 15 mil toneladas de tainha era pouco. Se as autoridades não tomarem uma providência, a pesca artesanal, que é uma das atividades mais antigas de Santa Catarina, vai se acabar”, considerou.
Em Arroio do Silva, a determinação de suspensão da pesca de arrasto é outro agravante ao cenário. Para o presidente da associação de pescadores local, a decisão precisaria ser revista. “Temos conhecimento de estudos no Rio Grande do Sul, em condições semelhantes às nossas, que provam que não há prejuízo algum ao meio ambiente. Nós usamos uma malha para cada peixe, queríamos que houvesse diálogo”, colocou Antônio.
Maria Baron se considera testemunha do drama dos pescadores da Vila Esperança, em Imbituba. “Eu costumo cozinhar para eles nos dias de pesca. Para continuar na pesca, só com muito sacrifício. Infelizmente, a maioria dos pescadores já tem idade avançada o que dificulta encontrar outra oportunidade”, enfatizou.
O fechamento da rodovia aconteceu das 10h às 10h20min, contando também com a participação de pescadores de Balneário Gaivota, Garopaba e Paulo Lopes. A fila de veículos começou a se formar logo nos primeiros minutos do ato, alcançando aproximadamente sete quilômetros nos dois sentidos, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Após a liberação do tráfego, os pescadores permaneceram com as faixas no acostamento durante o decorrer da manhã.
Entre os adereços utilizados no protesto, estava um boneco, que foi queimado, personificando o presidente da Confederação Nacional dos Pescadores, Ivo da Silva. Conforme os organizadores da ação, novas manifestações deverão ser realizadas.