Economia | 16/03/2012 | 10:00
Profissão: um marceneiro de verdade
Especial de Clarissa Crispim, do Jornal Gazeta
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Plínio Goulart, 50 anos, aprendeu com o avó João Manoel e o pai Alcides a profissão de carpinteiro. Seu envolvimento com a atividade começou aos sete anos de idade, quando se divertia na marcenaria em companhia do irmão Jorge. Foi entre uma brincadeira e outra que deu as primeiras marteladas. “Era década de 60 e a marcenaria funcionava no Centro da Içara, onde hoje está o Residencial Moradas do Ipê. Eu e meu irmão acompanhávamos todo o trabalho e aos poucos fomos aprendendo o ofício. Éramos pequenos, mas assim mesmo sempre ajudávamos em alguma coisa”, recorda Plínio.
Juntos faziam móveis variados em madeira maciça e segundo ele, toda a produção era confeccionada de modo artesanal. A madeira bruta (mogno, cerejeira e outras), vinham do Norte. “Era um material de primeira e mobiliávamos uma casa inteira, principalmente para os colonos que adoravam presentear os filhos que estavam prestes a se casar. Meu pai e avó fizeram grande parte dos móveis que estão espalhados em casas aqui de Içara e região”, diz. Ainda falando das recordações, ele lembra da primeira peça que fez. “Foi um roupeiro com três portas. Levei uma semana para deixar pronto e ficou perfeito”, fala satisfeito.
Com o falecimento do avô na década de 70, a marcenaria foi repassada para seu pai, que aos poucos foi deixando a profissão para os dois filhos. Em 1982, Plínio e Jorge firmaram sociedade e fundaram o Móveis Plijor. “Nossa proposta foi de manter a qualidade e acredito que conseguimos”, diz. Eles continuaram com uma grande clientela. “Pegamos o período que entrou a linha de compensado e de móveis embutidos. A madeira foi se extinguindo até mesmo devido a lei ambiental que proíbe a extração de determinadas espécies”, conta ele. Em 2006, a sociedade se desfez. Jorge optou por novos rumos e Plínio se manteve na função, agora com a Plínio Móveis Plijor.
Hoje, ele, o filho Marcelo e mais um funcionário com mais de 30 anos de profissão dão sequência aos projetos da empresa que há cinco anos está instalada numa área própria com 450 metros quadrados em Linha Zilli. "Fiz até a quinta fase de direito, mas preferi trancar e ajudar nos negócios da família. Caso contrário nossa história poderia se perder e não me arrependo”, revela Marcelo, que possui 26 anos.
Comparando com anos atrás, Plínio destaca que um roupeiro que antigamente levava uma semana para ficar pronto hoje se faz em duas horas. “A madeira maciça está sendo substituída pelos compensados, em especial o MDF. Hoje não existe mais o marceneiro de verdade. O trabalho mudou. O profissional precisa saber montar as peças e não se utiliza mais o prego, mas sim, cola pinos e parafusos. Tenho saudades dos velhos tempos, mas o problema é que a madeira maciça deixa o móvel muito caro”, comenta.
Na marcenaria, máquinas antigas se tornaram peças de museu. No interior do galpão pode-se encontrar em uso uma serra fita e o equipamento que faz o corte da madeira. “Não vou vender, vou deixar aqui. Era do meu avô”, mostra Plínio tirando um pouco da poeira que toma conta do equipamento. Mesmo com as novas tecnologias, ainda se compromete em prestar um bom serviço e manter como herança a qualidade e confiança aos clientes.
“Sinto orgulho quando vejo uma casa do jeito que o proprietário pediu. Tudo prontinho e com a sua cara e com orgulho de ter sido feito por mim”, diz satisfeito e com a missão de dever cumprido. Para o futuro planeja trabalhar por mais cinco anos e após deixar o legado para o filho. “Nós temos a experiência e eles a coragem. Confio muito nele”, finaliza.