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Economia | 20/05/2020 | 07:06

Quantos empregos foram perdidos com a pandemia?

Andréia Limas

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Na verdade, a resposta para essa pergunta é bem simples: ninguém sabe ao certo. E o motivo para isso é que não há dados oficiais em relação à perda de postos de trabalho no país. Um indicador confiável, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que até o início deste ano apontava mês a mês o saldo na relação entre admissões e desligamentos de trabalhadores com carteira assinada, não é divulgado desde janeiro, quando foram conhecidos os números de dezembro de 2019.

Primeiro, o Ministério da Economia anunciou que haveria atraso devido à troca do sistema. No fim de março, informou em nota que a divulgação para os meses de janeiro e de fevereiro seria suspensa, pois diversas empresas pelo país não estavam enviando as notificações, o que levaria a números distorcidos, principalmente de demissões. Conforme a Secretaria Especial de Trabalho e Previdência do Ministério da Economia, a divulgação só será retomada quando as empresas enviarem as informações corretamente.

Termômetro
Sem o Caged, um termômetro seria a movimentação nas requisições do seguro-desemprego, também em relação a trabalhadores com carteira assinada e dispensados sem justa causa, condições básicas para requerer o benefício. De acordo com a Secretaria Especial, no acumulado de janeiro a abril de 2020, foram contabilizados 2.337.081 pedidos de seguro-desemprego no país. O número representa um aumento de 1,3% em comparação com o acumulado no mesmo período de 2019 (2.306.115). No entanto, segundo o próprio órgão federal, como o trabalhador tem até 120 dias para requerer o seguro-desemprego, é possível estimar que até 250 mil pedidos ainda possam ser feitos nos meses seguintes, por não terem sido realizados presencialmente nos meses de março e abril, por conta da pandemia.

Números conflitantes
Momentaneamente sem estatísticas oficiais, governos e entidades têm recorrido a pesquisas, para analisar o cenário e projetar o número de demissões. E aí começam os conflitos em relação ao desemprego causado pelas restrições à atividade econômica no Estado, pois os dados diferem. Lembrando que estamos falando apenas de empregos formais, aqueles com registro em carteira.

Pesquisa
Na última semana, o Sebrae/SC, a Fiesc e a Fecomércio SC divulgaram a terceira edição da pesquisa sobre o impacto da pandemia do novo coronavírus na economia catarinense. De acordo com a sondagem, que analisou o universo dos pequenos negócios e das médias e grandes empresas, cerca de 530 mil pessoas já teriam perdido seus empregos desde o início da crise. Ocorre que esse montante é baseado na porcentagem – 41,4% – dos entrevistados que afirmaram terem feito demissões. Então, essa é uma estimativa: se a média de desligamentos no Estado se mantiver nesse patamar, mais de meio milhão de pessoas perderão o emprego. Mas não é um número absoluto. Voltando às solicitações de seguro-desemprego, com 2.337.081 no país, é difícil acreditar que 530 mil tenham sido protocoladas só em Santa Catarina.

Suspensão de contratos e diminuição de salários
Essa edição da pesquisa também ouviu os empresários sobre a adoção das medidas previstas na MP 936/20. A suspensão temporária do contrato de trabalho foi adotada por 24,7% das empresas, e a redução proporcional da jornada de trabalho e salários foi adotada por 22% das empresas ouvidas. Com isso, a estimativa é de que 408 mil catarinenses estejam em regime de suspensão do contrato de trabalho e 462 mil tiveram a sua jornada de trabalho e salário reduzidos. Para a pesquisa, foram ouvidos 2.547 empresários, de todas as regiões de Santa Catarina, entre os dias 4 e 6 de maio.

Governo do Estado
Por outro lado, o Governo do Estado usa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última sexta-feira, dia 15, para dizer que a crise não foi tão profunda assim em Santa Catarina. Os números mostram que o Estado manteve a menor taxa de desocupação do Brasil no primeiro trimestre de 2020, 5,7% até o fim de março, enquanto a média nacional ficou em 12,2%. Mas o próprio governo lembra que os números fazem parte e englobam apenas as primeiras semanas da pandemia de Covid-19 no país.

Informalidade
A pesquisa demonstra ainda que Santa Catarina possui a maior taxa de formalização da economia, uma vez que 88% dos trabalhadores do setor privado possuem carteira de trabalho assinada, contra uma média nacional de 75%. Em relação ao percentual de pessoas que trabalham por conta própria, a média catarinense é a menor do país, 22,9%, enquanto a taxa nacional é de 26,2%. Ainda segundo o IBGE, quando se leva em conta o percentual global de informalidade, a taxa de Santa Catarina fica em 26,6%, também a menor do país, contra uma média nacional de 39,9%.

Sobrevivência
No entanto, é outro dado catarinense que chama a atenção e esse é um número oficial, baseado em registros da Junta Comercial do Estado. Santa Catarina teve um saldo positivo no comparativo entre aberturas e fechamentos de empresas em 2020 e ele foi maior em comparação com o mesmo período do ano passado. Desde o início do ano, até 13 de maio, o Estado conta com um saldo de 35.144 novas empresas, enquanto no mesmo período do ano passado foram 31.955 constituições.

Mérito
O mérito pela criação e sobrevivência das empresas catarinenses deve ser todo creditado à classe empresarial, pois o apoio dado pelo Estado ao setor produtivo é mínimo. Isso ficou bem claro durante a pandemia de coronavírus, quando o suporte veio apenas em forma de linhas de crédito em volume muito abaixo da demanda, mesmo a empresas duramente impactadas pela quarentena. Mas como até o pior momento tem seu lado bom, é justamente esse espírito empreendedor e resiliente do catarinense que nos dá a esperança de superar essa tempestade muito antes do restante do país, mantendo Santa Catarina como um dos destaques da economia brasileira.