Economia | 21/05/2012 | 02:45
Sapateiro Vilmar resiste na profissão
Especial do Jornal Gazeta
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Com o passar dos anos muitas tradições e antigos hábitos se perdem. Isto inclui profissões que antes eram muito requisitadas e hoje já não são mais tão buscadas. Com a tecnologia, novos maquinários surgiram e, muitas vezes, substituíram os trabalhos manuais. Contudo, fugindo às regras e contrariando a modernidade, seu Vilmar Schimitz segue ainda em continuidade a única profissão que já teve na vida: de sapateiro.
A profissão de sapateiro surgiu por uma necessidade dos povos antigos. O profissional era responsável por produzir calçados que protegessem os pés. De maneira artesanal, ele produzia sapatos, botas, chinelos e sandálias. E, geralmente, essa era uma profissão que ia passando de geração para geração.
Ter um bom sapateiro era tão fundamental quanto possuir um alfaiate requisitado. Entretanto, apesar de sobreviver anos a fio, o sapateiro hoje exerce funções diferentes de anos atrás. Se antigamente seu dever era produzir um bom sapato, atualmente essa tarefa fica a cargo das inúmeras fábricas existentes pelo mundo. Hoje seu trabalho se resume a consertos e não apenas de sapatos.
Vilmar, por exemplo, passa horas trocando tacão de bota, reconstruindo saltos, pintando tênis, costurando jaquetas e arrumando zíper de mochilas. Ele conta que mesmo não existindo tantos sapateiros como antes, seu trabalho ainda é muito procurado. Ele consertou seu primeiro sapato quando tinha apenas 15 anos. Os ensinamentos vieram do pai que também tinha a mesma profissão.
Encantado com a forma em que seu pai manuseava os calçados, ele ficava atento a todos os detalhes para no futuro, colocá-los em prática. “Meu pai me ensinou que antes de saber o quanto eu iria ganhar, eu tinha que buscar excelência naquilo que eu estava fazendo. Dessa forma, iria oferecer um trabalho de qualidade e conquistar uma clientela de maneira mais fácil”, relembra.
Aos 58 anos de idade, Vilmar nunca trabalhou em outra profissão. Às poucas vezes que tentou fazer outra coisa, não foram positivas. “Minha esposa tem uma loja de roupas e eu poderia muito bem estar lá, trabalhando junto com ela. Mas, não consigo. Não gosto. Eu me sinto bem aqui onde estou, fazendo meus consertos, atendendo meus clientes e colocando em prática os ensinamentos do meu pai”, comenta.
Natural de Criciúma, ele mudou-se para Içara há 20 anos, quando se casou com a atual esposa, mãe do filho caçula, de 14 anos. Ele é pai de mais três filhos homens e uma mulher. Conquistar um espaço no mercado e trabalho não foi a tarefa mais difícil para Valmor. “A maior dificuldade que eu enfrento e sempre enfrentei, foi o esquecimento dos clientes. Muitas pessoas vêm realizar o conserto e nunca mais voltam para buscar o sapato”, relata.
“Eu perco horas fazendo o conserto, muitas vezes me desloco até outra cidade para buscar material e a pessoa nunca mais vem buscar. Tenho produtos que estão aqui a mais de um ano”, conta. Os produtos esquecidos em sua loja, Valmor reverte em caridade. Quando não são vendidos pelo valor que consertou, ele faz doações para entidades ou famílias carentes da região. “É uma forma de eu estar ajudando o próximo”, pontua.
E a profissão segue passando de geração para geração. Os ensinamentos que recebeu do pai ele passou para os filhos. Dois deles trabalham também no ramo de sapato. Valmor conta que se o caçula quiser seguir a profissão, apoiará em todos os sentidos. “Nunca quis influenciar em nada. Ele vai decidir qual a profissão o faz mais feliz. Mas se hoje ele me disser que quer trabalhar como sapateiro, eu irei apoiar e transmitir a eles tudo o que meu pai me ensinou anos atrás”, argumenta.
Passados mais de 40 anos realizando o mesmo trabalho, o sapateiro relata que sente amor pelo que faz. “Tudo o que eu faço na vida, faço por prazer. E não seria diferente no meu trabalho. Sempre gostei muito do que fiz. Consegui criar meus filhos, manter minha família e sobreviver todos esses anos. Conciliei o amor da profissão com o sustento de casa. Isso é o que há de mais importante”, finaliza.