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Economia | 07/06/2022 | 07:05

Taise Domiciano: Felicidade e criatividade estão correlacionadas?

Engajamento em atividades criativas contribui para uma espiral ascendente de emoções positivas

Taise Domiciano

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O que te faz feliz? A compra daquele tão sonhado carro? Aquela casa que estava estampada na capa de uma revista? O corpo milimetricamente perfeito? Talvez. Uma coisa que eu descobri, é que a felicidade não depende de eventos externos, mas sim de como os interpretamos.

Segundo Mihaly Csikszentmihalyi “A felicidade, na verdade, é uma condição para a qual devemos nos preparar, que deve ser cultivada e defendida particularmente por cada um.” Precisamos entender que não há como sermos felizes o tempo todo, se fôssemos, eu creio que a felicidade não existiria, pois nem saberíamos identificá-la.

Eu preciso de momentos não felizes, para distinguir a felicidade da não felicidade. Logo, a felicidade se traduz em pequenos retalhos, que são costurados aos demais momentos. Precisamos ser capazes de compreender o que de fato nos faz feliz e tomar consciência disso.

Ao que parece, a sina da humanidade é apenas reclamar que não é feliz e passar a vida inteira lamentando que não é, ou correndo atrás dela, de forma que não consegue aproveitar o agora. Está sempre um passo à frente, em busca do próximo, sem viver o hoje.

Quem vive sempre o amanhã, nunca saberá o que é a felicidade. Pois ela vai passar por você, e sua atenção estará em outro local, que não o aqui e o agora. Acredito que todos nós já vivemos um momento na vida, em que se sentiu pleno, uma sensação estranha, um pouco eufórica, no controle das próprias ações, dono do seu destino.

Segundo Mihaly “Nas raras ocasiões em que isso acontece, há uma sensação de júbilo, um senso profundo de fruição longamente acalentado que se torna em nossa memória um ponto de referência sobre como a vida deveria ser”.

Esses melhores momentos, acontecem quando o corpo ou a mente foi levado ao limite, numa tentativa de conseguir realizar algo. E quando conseguimos realizar, a sensação é inebriante. É nesse momento, que entendo como a criatividade pode ter tanta relação com a felicidade. Se a criatividade é o uso da minha imaginação, para resolução de problemas. Quando eu estou usando minha mente para resolver algo, e eu consigo encontrar a resposta que vale a pena, eu me encontro com a felicidade.

Por experiência própria, eu poderia dizer que o processo criativo como um todo é muito prazeroso, mas com certeza, o momento que encontramos algo que faz sentido é como encontrar uma pepita de ouro em um riacho, o pulmão se enche de ar, o coração bate mais forte, é impossível conter o sorriso.

Um artigo do Huffpost, citou que de acordo com um estudo recente da Nova Zelândia, “o engajamento em atividades criativas contribui para uma espiral ascendente de emoções positivas, bem-estar psicológico e sentimentos de florescer na vida.”

No estudo, 658 voluntários, foram convidados a usar um diário, por um período de 13 dias, avaliando o quão criativos eles foram ao longo dos dias e descrevendo seu humor. Todos os dias, os participantes também avaliavam o quanto se sentiam “florescendo”, o termo que os pesquisadores usaram para definir o experimento do crescimento pessoal positivo.

Ao final do estudo, um padrão ficou claro, “imediatamente após os dias em que os participantes eram mais criativos, eles disseram que se sentiam mais entusiasmados e energizados, ou seja, estavam florescendo mais.”

Segundo o Dr. Tamlin Conner, psicólogo da Universidade de Otago "O engajamento no comportamento criativo leva a um aumento no bem-estar no dia seguinte, e esse aumento do bem-estar provavelmente facilitará a atividade criativa no mesmo dia."

Quando estamos envolvidos, tentando resolver algum desafio ou problema, podemos explorar nossa própria identidade, usar todo nosso repertório acumulado somado a nossa própria intuição. Somos donos dos nossos pensamentos, imaginamos infinitas possibilidades e formas de resolver, e isso cultiva uma reflexão crítica e uma tomada de decisão.

A sensação interior é que nos tornamos maiores, mais donos de si. Sabe quando uma criança, está montando uma torre de blocos, e falta só uma peça, e ela quer conseguir colocá-la sem deixar tudo desabar? Ela analisa a melhor posição para colocar a última peça, seus dedos estão trêmulos, mas ela sente que vai conseguir, e eis que ela consegue. Uma sensação de alívio, felicidade, superação emana e ela precisa dividir isso, falar, gritar, comemorar.

Para um músico por exemplo, poderia ser quando ele deseja conseguir tocar aquela passagem que é tão difícil, mas ele ainda não conseguiu, ele tenta, ele se desafia, ele sabe que pode mais, até que consegue. Para um escritor, conseguir terminar de escrever um livro, para um matemático conseguir encontrar uma fórmula para resolver um cálculo.

Ou, poderíamos citar coisas mais simples, como por exemplo, um cano quebrado em um belo domingo, sem um local aberto para que você possa comprar a peça para fazer o conserto, e você começa a pensar em uma solução, até que tenta usar uma rolha de vinho, junto com uma estaca e consegue resolver o problema.

Eu poderia ficar aqui citando inúmeros exemplos, para ilustrar que a felicidade se encontra em pequenos momentos. Eu poderia até fazer uma analogia, que a felicidade são estações de trem, temos algumas linhas, e dentre essas temos a criatividade. Se você escolher ela, há garantia que você vai passar pelas estações de felicidade. Mas você é o condutor da locomotiva, você escolhe qual caminho seguir e você tem o dever de estar consciente para detectar a estação e poder parar e desfrutar dela.

Não espere a felicidade nos outros, ela depende de você. E saiba que a criatividade é um elemento que contribui e muito para que você alcance esse estado.