Esportes | 11/06/2014 | 13:41
De bem com a vida, sem idade para pedalar
Especial do Jornal Gazeta
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Existe idade para deixar de andar de bicicleta? Para o barbeiro Lourival Luiz Saturnino, popularmente conhecido como Loro, não. O morador do bairro Presidente Vargas, em Içara, tem 64 anos, foi trabalhador de mina, e atualmente participa de algumas competições de ciclismo. Muitas vezes, fecha sua barbearia, avisa os clientes sobre a ausência com uma placa na porta e sai para pedalar.
“Na época em que trabalhava na mina, eu tinha uma bicicleta e usava somente para me deslocar até o trabalho. Minha primeira longa pedalada foi em 1997. Uma das minhas filhas mora em Jaguaruna e resolvi ir até lá de bicicleta, mas voltei de carro, porque não conseguia mais andar. E assim o interesse foi surgindo aos poucos”, conta.
É num diário que ele anota todas as informações a respeito do trajeto que realizou. Somente neste ano, segundo ele, já foram pedalados mais de 1,8 mil quilômetros. “Coloco tudo: trajeto, quilometragem, com quem estava, qual a condição da estrada. Fica como recordação”, destaca o ciclista. No último domingo, os relatos foram sobre o Desafio de Pedra Branca, em Palhoça. Na categoria de 26 quilômetros para pessoas acima de 60 anos, Loro ficou em terceiro lugar. Ele completou o percurso em 1h42min58seg.
“Eu realmente não esperava conquistar esta posição. Meu desempenho, apesar do trajeto ser um lamaçal, consegui o terceiro lugar. Não pensava que iria conseguir tanto, porque estava em recuperação de uma anemia, tanto que não cheguei a fazer o trajeto de 52 quilômetros. Mas acho que poderia ter ido no 52 que conseguia aguentar”, comenta.
Conforme Loro, o gosto pela atividade ficou ainda mais forte devido ao grupo que se reúne para as pedaladas pela região. “Quando você está sozinho, acaba desanimando, muitas vezes colocando até defeito no tempo, não indo pedalar em um dia apenas nublado. Mas quando se faz em grupo, um bate na tua porta e você vai, mesmo que esteja chovendo. O próprio convite encoraja. Foi onde acabei tomando gosto”, coloca. Segundo ele, o grupo conta com pessoas de todas as idades e de várias cidades da região.
Após quase 20 anos pedalando, o ex-mineiro já tem algumas histórias para contar, inclusive lesões. “Eu nunca tive problemas na mina, não tive acidentes, nada. Mas com o ciclismo já tenho alguns acontecimentos. Uma vez, num treino em Criciúma, perto do depósito do Angeloni, andando a 25km por hora, um individuo estava atravessando a avenida e acabei caindo e desmaiando. Tive algumas luxações”, conta.
Aos 64 anos, Loro está bem fisicamente e isso se deve bastante por causa da atividade física praticada de forma intensa. “Para andar de bicicleta e competir, são 50% de cada. Você deve estar bem fisicamente, mas o material também tem que te ajudar. Mas a bicicleta ajuda muito na questão de saúde”, colocou. Atualmente, ele faz o trajeto Içara/Jaguaruna, ida e volta, em três horas, em média.
COMPETIÇÕES - Os mais de 15 anos na prática da modalidade esportiva já resultaram nas participações em diversas competições. Ele já participou de sete desafios Márcio May, de quatro Desafios Pedra Branca, além de passeios festivos, como 100km de Braço do Norte e Audax em Santa Cruz (desde 2005) e em Criciúma (desde 2008). “Na primeira vez, em uma competição em Rio do Sul, nem sabia que tinha e acabei entrando só para ver. Entre na categoria de 50 a 59 anos e eu acabei ficando em primeiro”, pontua Loro. “Hoje, quando tem competição ou evento festivo se eu não estiver devidamente treinado, eu nem vou, pois no carro de apoio eu não embarco, nem que a vaca tussa”, acrescenta.