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Política | 20/12/2012 | 22:19

Gentil: Da lavoura até o Paço Municipal

Lucas Lemos - lucas.lemos@canalicara.com

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O segundo nome e o sobrenome veio do pai, Dory Idelbrando da Luz. Já o nome foi em homenagem a Gentil, um trabalhador que lavorava nas terras da família. Em 19 de fevereiro de 1964 Benta pegava no colo então o primeiro filho homem. O casal já tinha Maria e Fátima. E após Gentil nasceu ainda Dolores e Jorge.

Até os 15 anos, Gentil morou em Sanga Funda. Sentado numa sala próximo ao gabinete de prefeito, ele embala a cadeira e conta as residências que haviam na comunidade. Para cada soma ele balança uma vez. "Eram 17 famílias", soma de olhos fechados numa rápida viagem ao passado. A casa com dois quartos nem tinha banheiro. Era patente. Num dos cômodos ficavam os pais. No outro os filhos.

Para Gentil restava a tarefa de acordar as 6h. A primeira refeição ocorria somente após dar comida aos animais. Tinha galinha, porco, além dos bois Pinheiro, Diamante e a vaquinha Lila. Era dela que se enchia o engradado de leite para o café da manhã. Na primeira refeição eram duas opções de cardápio. Tinha bolinho de banana ou polenta.

O caminho até a Escola José Fernandes Silveira Gentil cumpria em passos ainda pequenos. Foram quatro anos na unidade. O trajeto acabou prolongado com o ingresso na Escola Maria da Glória e Silva no bairro Aurora. "As estradas eram de pirita. Em dias ensolarados não dava para ir. Queimava o pé", lembra. A facilitação ocorreu somente aos 15 anos. Foi quando ganhou então uma bicicleta.

“Eu já dizia que ia ser vereador, prefeito e deputado aos sete anos. Meu nome estava no Hino Nacional. Meu nome era importante. Era cantado em eventos de inauguração, no Sete de Setembro... O hábito era inclusive cantar o Hino Nacional antes de entrar para a aula. Na hora do verso com pátria amada Brasil todos olhavam para mim”, recorda.

Aos 16, Gentil mudou-se com a família para Pedreiras. A casa continuava a ser de madeira. Mas já eram três quartos e tinha também banheiro. A família plantava fumo, feijão, milho, melancia, arroz e amendoim. "Todo este trabalho só me fortaleceu. Amadureci mais cedo, afinal, tinha que cuidar dos irmãos", destaca.

Em paralelo ao ensino médio na Escola Sebastião Toledo dos Santos, em Criciúma, assumiu a administração de um bar. E pelo sonho de comprar um caminhão, fez somente os dois primeiros anos. Tocou três estufas da família. Por azar, a estiagem prejudicou a safra e ficou devendo o veículo. Tinha cerca de 17 anos. Somente no ano seguinte conseguiu pagar a dívida. E para quitar o débito, vendeu até mesmo os bois Pinheiro e Diamante.

Em busca de novos desafios, foi para o Rio Grande do Sul. Trabalhou por dois anos na condução de máquinas pesadas para a construção de estradas. No retorno, comprou uma mercearia em Pedreiras. Em 1985, escolheu a preferência partidária que o acompanharia. Filiou-se ao PMDB e foi presidente do núcleo no bairro. Eis a primeira eleição em que participou para um cargo elegível. Ganhou por um voto de diferença sobre a então presidente do Grupo de Jovens.

Também em 1985, Gentil concluiu o ensino médio no Colégio Criciúma. Logo no ano seguinte fez a coordenação municipal na candidatura de Lírio Rosso para deputado. Em 1987 foi convidado então para ir para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina. "Foi a primeira vez que passei a ponte. Seis meses depois virei chefe do gabinete", recorda.

Na mesma sala em que o prefeito remonta o passado, o assessor pessoal acompanha ao lado com o telefone na mão. Tenta apressar a entrevista. Mas o jornalista não arreda o pé. Havia tentado aquele momento no dia anterior. No entanto a agenda do prefeito não havia permitido. Secretárias também ficam no mesmo ambiente. Documentos aparecem de diferentes setores para que possa assinar. Alguns são rubricados durante o próprio bate-papo.

"Em 1988, teve eleição em Içara e me candidatei de Florianópolis. Meu primeiro mandato foi com 24 anos. Tive 294 votos. Fui o menos votado dentre os 11. Na época a cidade tinha cerca de 18 mil habitantes e 12 mil eleitores", retoma a conversa. Foram três mandatos como vereador. Teve 756 votos na segunda vez e 1320 na terceira.

"Era muito atuante. Muito presente nas comunidades e brigão. Os prefeitos adversários passaram trabalho. Artur [Zanolli] e Heitor [Valvassori] tinham ódio de mim. Cada sessão era 10 pedidos de informação. Era requerimento, abaixo-assinado. Criei lei para sessões itinerantes nas comunidades. Passe do idoso? A içarense não queria colocar escritório na cidade. Por isso eu fazia protesto com som em cima do meu fusquinha", apresenta-se.

Junto com a vereança, foi também chefe de gabinete do então vice-governador Zé Augusto Hülse. Tentou ainda ser deputado estadual, mas não obteve sucesso. Concorria no PMDB com Valdir Cobalchini e Elizeu Mattos.

No meio destas idas e vindas escolheu a mulher que o acompanharia no resto da vida. Casou aos 27 anos com Marielza. Era a sua melhor amiga e ainda namorava o amigo mais próximo. Isto até que um dia a namorada de Gentil e o namorado de Marielza foram para uma festa e os dois não puderam ir. Ficaram em Pedreiras e se encontraram na inauguração do Corujão. “Lembro até da banda. Naquele dia tocava Aves de Rapina”.

Era uma banda com equipamento tão forte que o equipamento explodiu. Na volta para a casa, Gentil acompanhou Marielza. E no meio desse caminho aconteceu o primeiro beijo. "Logo em seguida ela passou num concurso para Fraiburgo para lecionar numa comunidade chamada de Cerro dos Bugios. Fui com ela até lá. Subi a serra com o fusquinha e o carro falhou". Para que Marielza voltasse sem perder o cargo de efetiva na rede estadual, a professora foi tomada de surpresa por uma proposta. Gentil pediu em casamento.

"Ela queria desistir. Para não fazer isto, teria que casar com um funcionário público ou agente político. Eu tinha mandato de vereador e por isso fiz a proposta", relata. O casamento foi rápido. Ocorreu dentro de 40 dias. Tudo foi mantido em segredo. Quase um ano depois noivou de verdade e daí revelou aos pais da esposa que já havia casado. A união no religioso foi marcada por uma festa com quase 1,2 mil pessoas no salão paroquial do Centro de Içara. Entre as testemunhas estavam Eduardo Moreira, Lirio Rosso e Paulo Afonso Vieira.

Deste enlace matrimonial surgiram dois filhos. Ulisses nasceu em 1993 e recebeu o nome em homenagem a Ulisses Guimarães. "Era um líder da juventude. Eu sempre ia ao encontro dele seja em Curitiba ou Porto Alegre". A escolha ocorreu um ano após a morte do peemedebista. Já o Paulo José teve unido num mesmo nome outros dois ídolos de Gentil: Paulo Afonso Vieira e José Augusto Hülse.

As condições financeiras evoluíram junto com tanta bagagem política. Gentil atuou na mesa diretora da Assembleia Legislativa, no gabinete do governador Luiz Henrique, foi secretário de Desenvolvimento Regional em Criciúma e coordenou a descentralização. O fusquinha foi deixado de lado. Deu espaço para um Fiat Uno. Depois foi um Pálio, um Pálio Weekend e mais recentemente um Eco Sport.

"Há 11 anos atrás, quando a praia emancipou vim morar em Içara para ser candidato na cidade". Em 2004 tentou espaço no Poder Executivo. Perdeu na época par Heitor Valvassori por 150 votos. Em 2008, enfrentou novamente Heitor. Desta vez, venceu. Aos 44 anos foi eleito então prefeito de Içara. “Toda disputa é sangrenta. Uma eleição para o legislativo é diferente. Se há trabalho durante o mandato, na campanha já estava eleito. É algo individual. Já a eleição no Executivo é preciso ter um equilíbrio. É preciso de composições. A cidade é feita de várias tendências e de pessoas que pensam diferente. Mexe muito com a família”, diferencia.

“O meu primeiro sonho era ter um caminhão. Depois era montar um comércio. Ai surgiu a oportunidade que Lírio Rosso me deu”, elenca. Gentil lista que foi também líder de classe, líder do Grupo de Jovens, presidente da Associação de Moradores de Pedreiras, presidente do Brasil Pedreiras e da União das Associações Comunitárias. “Isto me dava entusiasmo para lutar numa eleição”, exclama.

Após quatro anos como prefeito, outra meta já é trabalhada. Quer voltar ao Legislativo em 2016. “Tenho convite para estar no Senado, na Câmara Federal e Alesc, além do Governo do Estado. Depois de março, da eleição de Jairo, vou definir para onde irei”. Gentil garante que política é a sua votação.

“Quero estar nas ruas, nas casas, nas comunidades. Não vou gastar com café da manhã, almoço e janta”, projeta. “Tive o privilégio de ser prefeito de Içara. Acho injusto que eu não reconheça os votos que recebi. Sei das lideranças de cada comunidade. Vou manter o contato com elas e conquistarei aquelas que perdi. Quero ser um andarilho. A quilometragem de meu carro vai ser suficiente para dar a volta ao mundo. Levei 20 anos para chegar a Prefeitura. Usarei o mesmo tempo para agradecer sendo o ex-prefeito mais presente”, fecha então numa primeira etapa da entrevista.