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Política | 30/03/2013 | 10:08

Há 49 anos, começava a Ditadura Militar

Especial de Djonatha Geremias, do Jornal da Manhã

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Dia 31 de março de 1964: o Brasil iniciava um dos períodos mais tristes e sombrios da história. A Ditadura Militar, como ficou conhecido o período de 1964 a 1985, foi a responsável por um avanço econômico no país, mas a custo de centenas de vidas de civis em um regime de medo, censuras, torturas, sequestros e assassinatos por parte dos militares que aplicaram o golpe (as Forças Armadas do Brasil, constituídas pelo Exército, Marinha e Aeronáutica). As provas contra o Estado Militar surgem cada vez mais a cada investigação, corroborada pelos depoimentos dos sobreviventes e de parentes das vítimas. Entre os relatos, a morte misteriosa de vários militares, a qual se suspeita como sendo “queimas de arquivo”, e a destruição de muitos documentos oficiais que comprovam as ações criminosas.

Só em Santa Catarina foram, pelo menos, 11 pessoas mortas no período da ditadura, quatro das quais jamais tiveram seus corpos encontrados. Em Criciúma, alguns nomes são remanescentes do período, sobreviventes, tais como Derlei de Lucca e Marlene Soccas. Defensora do socialismo até hoje, aos 78 anos, Marlene sobreviveu a torturas e não tem medo de declarar detalhes e nomes. “Era um preço que eu estava disposta a pagar. Não carrego nenhum trauma até hoje”, explica Marlene.

Ela conta que quase diariamente levava choques elétricos com fios desencapados, apanhava nas palmas das mãos e dos pés a ponto de não conseguir caminhar, era atada com tiras de couro em uma cadeira com assento de metal para receber descargas elétricas, já foi amarrada em paus-de-arara, em que recebia pancadas nas nádegas, choques e água diretamente no nariz para ficar sufocada, tudo isso sem comer nada, para que não se engasgasse durante uma convulsão. “Eu tentava me manter consciente para não passar as informações que eles queriam. Esses torturadores estão soltos, sem processos e recebendo boas aposentadorias”, conta a dentista.

O estádio Heriberto Hülse, o Colégio Professor Lapagesse e o Centro Cultural Jorge Zanatta (onde hoje funciona a Fundação Cultural de Criciúma) foram locais que serviram de prisão no tempo da ditadura. Um dos presos é o aposentado Ciro Pacheco, morador do Balneário Rincão. Ele conta que foi levado ao estádio, com mais centenas de outras pessoas (dentre elas, o então presidente do Sindicato dos Mineiros, Jorge Feliciano), onde foi feita uma triagem. Civis considerados ameaças ao regime militar eram levados para o Colégio Lapagesse e para o Centro Cultural. Há relatos de pessoas que ficaram mais de 45 dias presos, inclusive sob torturas. “Levar as pessoas para campos para triagens era um procedimento típico de golpes de estados na América Latina, e aqui não foi diferente. O estádio era uma prisão preventiva”, comenta o professor Sérgio Uliano.

O professor Uliano é membro fundador do Coletivo Memória, Verdade e Justiça João Batista Ribero, do qual participam Marlene Soccas e outros ativistas da causa. O objetivo é pesquisar e investigar os fatos na região sobre o período ditatorial. O nome do grupo foi em homenagem a um criciumense desaparecido. Em 1973, quando tinha 25 anos, o estudante João Batista Ribeiro foi preso e torturado até a morte. Seu corpo foi incinerado em uma usina de açúcar em Cambaíba (RJ).

O Coletivo não é uma associação oficial do governo. Em maio de 2012, a presidente Dilma Rousseff (que também foi uma ativista perseguida pela ditadura) instaurou a Comissão Nacional da Verdade para apurar os fatos da Ditadura Militar. Essa comissão será a responsável por escrever a história oficial da ditadura no Brasil. Com várias subcomissões pelo país, o movimento conta com ajuda de coletivos como o de Criciúma. Um dos objetivos, além de identificar os torturadores e tentar comprovar os crimes, é ajustar os atestados de óbito das vítimas para que contenham exatamente a causa da morte motivada por tortura.

É o caso do jornalista Rui Pfüzen Reuter, natural de Orleans, que foi assassinado em São Paulo pelos homens do Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Na certidão de óbito dele, consta apenas “morte por hemorragia interna aguda”. O coletivo também quer a revitalização dos monumentos de memória ao período de ditadura em Criciúma, que atualmente estão degradados, como o que está ao lado da Unesc, próximo o terminal de ônibus, no bairro Universitário.

Segundo Marlene, agora a sociedade precisa encarar uma segunda luta. “A primeira foi contra a ditadura, agora precisamos educar o povo a exercer a democracia com seriedade e consciência. A burguesia faz política todos os dias, mas o povo só exerce a democracia a cada dois anos, no dia das eleições. Na prática, estamos indo atrás de gente comprometida e dando aulas sobre socialismo, história e política. Acontece no meu escritório de odontologia mesmo, onde assistimos a filmes e documentários, lemos livros e debatemos muito sobre a sociedade, sempre em busca da educação política”, informa. O próximo curso sobre Marxismo começa a partir do dia 1º de abril, das 19h30min às 21h30min, na clínica odontológica de Marlene, na rua Fernando Zanata, 30, no bairro Jardim Angélica, perto da Satc. O telefone é (48) 3478-3478.



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