Política | 03/01/2013 | 11:08
“O sentimento de renovação não para”
Lucas Lemos - lucas.lemos@canalicara.com
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As primeiras lembranças de Murialdo Canto Gastaldon sobre Içara remetem a infância. Segundo filho entre três que tiveram Vivino Vendramino Gastaldon e Maria Terezinha Canto, ele chegou à cidade com cinco anos. Fixou residência com a família na Rua Altamiro Guimarães. E na estrada de saibro lembra ainda de uma série de vizinhos que dividiam o espaço para as brincadeiras, entre eles, Arilton Fernandes, Alcino Fernandes, Vanderlei Zanetta, Valdemar Luiz Casagrande, Procópio Lima, Arnaldo Lodetti Júnior e Sandro Cabreira. “Vi o paralelepípedo ser colocado e mais tarde o asfalto. Divertíamos com carrinhos, espadas, caverna e pega-pega”, conta.
No mesmo ano em que chegou a Içara começou a estudar. Ficou até 1973 no Colégio Cristo Rei. No ano seguinte foi para o Marista. “Estava acostumado a brincar em Içara. Em Criciúma tinha que olhar para o lado. Aprendi o caminho com Djalma Dagostim e o Arnaldo”, acrescenta. Já o terceiro ano do ensino médio fez em Florianópolis. A ida para a capital era uma preparação ao vestibular.
“Quem sempre me estimulou a estudar foram meus pais. O pai lia mais o jornal Correio do povo. E a mãe fazia as leituras de livros mesmo. Eu tinha que fazer resumos, encontrar palavras difíceis e buscar sinônimos. Em matemática, recebia ajuda de Robson Guglielmi”, lembra.
Ao rumar para Florianópolis, estudou no Barddal. Em paralelo, ficou numa casa mantida pela Prefeitura de Içara para os estudantes. Dividia o local com José Manoel Cardoso, Paulo Cardoso, Jorge Biff Sobrinho, José Dionísio Cardoso, Jaime Casagrande e Jose Martins. “Estava na duvida entre História, Filosofia e Administração. Um primo fazia Economia e vi que tinha a presença dos outros cursos. Então pensei: é isso ai”, exalta.
Na época em que esteve na graduação pela UFSC, em 1982, encontrava nos corredores outros moradores de Içara. O mesmo curso havia sido a opção de Henrique Guglielmi e Delaunei da Silva. “Estava ganhando força o retorno da democracia. Teve eleição direta para governador no mesmo ano. Já em 1985 teve eleição para prefeito da capital”, lembra na mesma época em que foi diretor do Centro Acadêmico.
“Eu tinha um tio que foi deputado [Murilo Canto]. Criei-me neste ambiente nos anos 70. Era uma luta muito forte contra a ditadura. Discutia-se o fortalecimento democracia, anistia... Acho que foi o que mais me influenciou. Minha mãe também foi secretária de Educação no último ano de governo de Zé Daltoé e nos quatro anos de Ramos Roussenq”, discorre.
Em 1986, Murialdo voltou para Içara e começou a trabalhar de gerente financeiro na Transrondônia. A empresa era do tio deputado. “Era um cargo bom”, garante. Ainda assim, se lançou na política. Em 1988 foi eleito vereador pelo PMDB. Foi o mais votado com 384 votos. Dividiu o plenário com Gentil da Luz e não se dava bem com o colega que mais tarde viraria seu apoiador na campanha para prefeito. “Era disputa de liderança”, relata.
Após quatro anos de namoro, casou com Ceneli Freitas. A união foi celebrada em 22 de agosto de 1987 por Bernardo Junkes. “O mesmo padre celebrou a minha primeira comunhão e fez o batismo de Vitor”, relata. O filho mais novo nasceu em 1999. Já o mais velho, Bruno, em 1988.
Em 1990 decidiu trocar de partido. Junto com um movimento de dissidências nacionais, migrou para o PDT. Em paralelo a vereança, passou a dar aulas de História e Geografia no bairro Aurora. Em seguida assumiu como secretário de Administração em Morro da Fumaça. E simultaneamente, passou no concurso para o Tribunal de Contas do Estado. Com isso voltou a ter parte do dia-a-dia em Florianópolis. Foi analista de controle externo na diretoria de municípios do Oeste.
Aos 28 anos, tentou a primeira eleição majoritária. Estava inscrito para vice de Deobaldo Donato Pacheco. Mas perdeu para o padrinho de sua esposa, Artur Zanolli. A diferença foi de 900 votos. “Foram quatro pontos percentuais”, contabiliza. Depois disso dedicou-se a especialização em Administração de Recursos Humanos também pela UFSC. Em 1994, licenciou-se então do TCE e foi para a Telesc a convite de Walmor De Luca. Ficou por dois anos na estatal.
“Consegui, além dos telefones públicos, a fibra ótica para Linha Três Ribeirões, Segunda Linha, Boa Vista e Terceira Linha. Estava em caráter Experimental. Essas comunidades foram atendidas com uns 100 telefones. Foi uma coisa inédita em Santa Catarina”.
Na política, Murialdo participou novamente do pleito içarense em 1996 como candidato a vereador. Teve 658 votos. Foi o mais votado da coligação, mas não conseguiu espaço para obter uma cadeira devido a legenda. “Neste meio tempo fui dar aula na Unesc. Comecei em 1994. Recentemente vi que a minha matrícula é 1213. São os números do PDT e PT”, brinca.
Na universidade fez parte do Núcleo de Pesquisa Sócio Econômica. Também deu aulas nos cursos de Ciências Contábeis até 1998. Parou de lecionar para fazer o doutorado em Florianópolis. Desta vez levou junto a família. No retorno para a região carbonífera, atuou na fundação do curso de Economia da Unesc. “Fui o primeiro coordenador do curso junto com o Alcides Goulart Filho e outros professores”, acrescenta.
Em 2001 foi secretário da Fazenda em Criciúma. Ficou dois anos e meio. Saiu na metade de 2003 durante o governo de Décio Góes. “Tinha o compromisso de fazer o recadastramento imobiliário da cidade. E já estava pensando em ser candidato em Içara. Sai pois estava muito vinculado a Criciúma”, justifica. Além de retornar para a Unesc, foi candidato em 2004. E desta vez venceu com 1294 votos. Acumulou o cargo no Legislativo, aulas na Unesc e a direção de Pós-graduação, Mestrado e Doutorado da universidade.
Aos 48 anos, o urussanguense erradicado em Içara, filiado ao Partido dos Trabalhadores e agora prefeito se apresenta como um homem mais maduro. “Eu confundia muito a critica de atitudes e a criticas as pessoas. Eu criticava mais a pessoa do que a atitude. Hoje as pessoas têm diferenças. Mas não são tão grandes. São diferenças de atitudes”, resume. Sentado, de pernas cruzadas e pensativo na hora de discursar para a entrevista, ele ressalta ainda que sempre contou com o apoio da família.
“A campanha é cansativa e ao mesmo tempo revigorante. É uma enxurrada de emoções positivas e negativas. E tem que tomar cuidado para não entrar em euforia, achar que está tudo certo quando dá certo ou que está tudo errado porque deu errado. Tem que sempre ponderar”, garante. Na primeira disputa para prefeito, Murialdo conta que trabalhou principalmente a necessidade de renovação. E para brotar este sentimento na cidade, contou com profissionais de publicidade, psicologia, além da articulação política. O resultado foi a soma de 16 mil votos. Isto significa 52,98% dos sufrágios válidos e 5,96 pontos percentuais de vantagem.
“O sentimento de renovação não para na Prefeitura. Bate em outras portas. Bateu nas associações de moradores, Conselho Fiscal da Cooperaliança, Conselho de Administração e não parou. Atingiu o Hospital São Donato, a Câmara Municipal e vejo que não perdeu força. Esta mesma onda pode bater na porta do Sindicato dos Servidores Públicos de Içara também”, garante.
“Pelos exemplos da Administração, defesa da promoção social, reequilibro econômico entre as regiões do município e a defesa do meio ambiente. Isto na parte da prefeitura vai ganhando adeptos. O PT vai crescer também porque, politicamente, as pessoas razoavelmente esclarecidas percebem que o partido significou avanços nacionais e que por serem recentes, podem ter retrocesso se a direita voltar”, aponta. “Vamos enfrentar muitos problemas. Muitas atitudes terão incompreensão num primeiro momento. Mas é um governo que veio para mudar. Se estas mudanças significarem apenas um mandato, será apenas um mandato. Não vou comprometer as mudanças para garantir a reeleição”, pontua.