Segurança | 21/08/2013 | 12:12
A pesquisa como produto mercadológico
Especial de Daniela Soares e Amanda Tesman, do Jornal da Manhã
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Dez anos de experiência conferem qualidade de conteúdo e agilidade no prazo de entrega. A originalidade do teor também agrega ao produto, que fica ainda mais atrativo quando cobre-se a “oferta da concorrência”. É o que prega anúncio intitulado de “A solução” em, pelo menos, quatro páginas da internet. Em negócio, estão monografias, relatórios de estágio, projetos de pesquisa, artigos científicos, dissertações, entre outros trabalhos.
Supostamente em busca de uma resenha bibliográfica, a reportagem do Jornal da Manhã solicitou os serviços, atendidos de pronto pela professora M.M.S. O contato foi realizado via e-mail e mensagens telefônicas. Do âmbito do direito, o livro de mais de 570 páginas foi compilado em dez, em apenas dois dias. No entanto, foi preciso providenciá-lo em modelo digital e assentir às condições da compra. “É feito o depósito em conta corrente, sendo 50% quando fechamos o trabalho e o restante no dia em que eu enviar o trabalho”, sentenciou M., determinando o custo de R$ 15 por página.
Questionada, a professora garantiu domínio a qualquer demanda acadêmica. “Você havia me perguntado se faço trabalho de outras áreas, faço sim”. Com a identificação de “Trabalhos acadêmicos e escolares”, a professora dispõe no Facebook de um perfil e uma página. Entre os amigos virtuais, estão perfis de três centros acadêmicos da região. Um site de compras online também dá vitrine ao negócio, contendo mural com 38 questionamentos, sendo o mais recente postado há cinco dias.
Em guias de serviços, ofertas semelhantes também são encontradas, supostamente, também de profissionais de Criciúma. Em uma delas, para pesquisa, digitalização e formatação, cobra-se R$ 1 por página. A venda de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) já foi alvo de investigação da Polícia Civil. A negociação, pesquisa e elaboração eram feitas por um funcionário público, que utilizava as dependências, materiais e horário de expediente para confeccionar os trabalhos. Um mandado de busca e apreensão foi cumprido na biblioteca do Fórum de Criciúma, local de trabalho de R.D., que foi denunciado pelo Ministério Público, já na fase judicial, 20 vezes pela prática de peculato e falsidade ideológica.
Na época, os clientes de R. também foram denunciados, mas por falsidade de documento particular. De acordo com o que consta na denúncia do MP, todos os acusados apresentaram na banca a tese do TCC como fruto do próprio estudo e pesquisa. Para elaborar os trabalhos, R. recebia de R$ 100 a R$ 1 mil. Informado da nova prática, o delegado da Divisão de Investigação Criminal (DIC), André Milanese, explicou que os compradores podem ser enquadrados no crime de falsidade ideológica. “Eles estão apresentando um documento que não foi feito por eles. Quem está usando este documento alheio atribuindo a autoria para si estaria cometendo o crime de falsidade ideológica”, ressaltou. O caso será estudado.