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Segurança | 04/07/2013 | 17:54

Defesa alega ação de sulfatos para colapso

Lucas Lemos - lucas.lemos@canalicara.com

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A queda do prédio dos Correios ocorreu pela ação de sulfatos na base da estrutura. Esta é a linha de interpretação da defesa conforme apresentado no seguimento dos depoimentos nesta quinta-feira, dia 4. A constatação está baseada principalmente na perícia contratada pelo réu Márcio Adelar Peruchi. O engenheiro civil é o único que ainda responde ao processo criminal pelo colapso do prédio em 2005. Ele já chegou a ser condenado, contudo, conseguiu a anulação da sentença e toda a instrução processual foi reiniciada por não ter tido a oportunidade de apresentar contraprovas.

O arquiteto Ricardo Lino foi um dos primeiro profissionais a chegar ao local. Ele atuou na verificação dos ambientes para que os resgates pudessem ocorrer, contudo, sem avaliar a estrutura de forma técnica. O reconhecimento do prédio ocorreu através das plantas e também com o ingresso no interior da construção. “Os azulejos começaram a se desprender. Eu subi porque achei que seria mais fácil. Quando desci, precisei sair por uma janela já que a porta não abria mais", lembra.

O arquiteto foi também o primeiro que afirmou a possibilidade de traços rasos serem utilizados em obras. Segundo ele, isto pode ocorrer para preenchimento de pisos e lajes, inclusive, com mistura de isopor e detritos de obras. Mas não ocorre na base estrutural. A interrogação ocorreu por parte da própria defesa porque foi constatado no laudo a existência de concreto com baixa resistência. O documento lista ainda que o sinistro acabou provocado pela somatória de uma série de equívocos, entre eles, o uso incorreto da espessura de metais.

Mas para o engenheiro civil José Dionísio Cardoso, a queda não deve ser atribuída a somatória de erros pontuais já que, se fosse, assim, a obra deveria ter dado sinais de irregularidade. Os sinais surgiriam, por exemplo, com a diferença do contrapiso. Ele ainda analisou as fotos que constam no processo criminal e constata que a corrosão da umidade não seria suficiente para o incidente. Além disso, avalia que mediante a margem de segurança nos projetos, não seria necessário refazer o cálculo mesmo no caso da substituição do rebaixamento do teto pela elevação do piso como ocorreu.

“As situações apontadas como uma cadeia de fatores que resultaram no colapso (...) ficam bem claras que nada tiveram haver, seguramente falando, com a deterioração química que houve no concreto”, garante o engenheiro civil e perito contratado pela defesa, Francisco de Assis Beltrame. Ele sustenta que o desmoronamento da estrutura foi causado pela alta concentração de sulfato na água encontrada no solo. Tanto que a resistência acabou menor do que o recomendável na sapata que teve contato com o líquido. O sulfato diluído pode se transformar num gesso expansivo que deteriora então o concreto.

“Houve omissão na busca da origem do colapso. Ficou claro que existia um elemento químico altamente agressivo que não foi levado em consideração nos laudos. Pela experiência que tenho como perito do juízo, entendo que é preciso se atentar além do enchimento na laje, da bitola do ferro ou ausência de registro na Prefeitura. Isto jamais deve ter haver com a deterioração da composição química do concreto”, considera Francisco. A elaboração correta na massa igualmente a fiscalização de Márcio já foi afirmada por trabalhadores que atuaram na obra. As visitas constantes do engenheiro responsável também foram ratificadas ainda nesta quinta-feira pelo pedreiro Vanderlei Colle.

O interrogatório de Márcio estava marcado para a mesma audiência. Mas foi adiado pela alegação da defesa sobre a necessidade de serem ouvidos novamente os peritos de acusação. O pedido deverá ser formalizado e dependerá da análise do juiz Fernando Dal Bó Martins. O advogado Sérgio Graziano Sobrinho considera inconclusivas as respostas dadas na coleta dos depoimentos realizada na última segunda-feira. Isto porque não levou em consideração a ação dos sulfatos.

Os testemunhos de José Augusto da Luz Koerich e Celito Cordioli ocorreram em Florianópolis e anda deverão ser remetidos para a Comarca de Içara através de carta precatória. Também são esperados os depoimentos das vítimas Ivonete Fernandes (Santa Rosa do Sul), Carla Cristina de Moraes Santos (Laguna) e Márcio (Florianópolis), do bombeiro Vanderlei Vanderlino Vidal (Florianópolis), além de Rodolfo Lucas Bortoluzzi (Tubarão).

ALERTA – Segundo o perito contratado pelo réu, problemas em outros prédios no Centro de Içara também já ocorreram e podem estar ligados aos sulfatos. A dúvida levantada pelo promotor Marcus Vinicus Faria Ribeiro é sobre a possibilidade então de outros fatores terem colaborado para a queda do prédio dos Correios. A perícia particular, contudo, garante que esta hipótese é incabível.

“Eu olharia com muito carinho os fatores externos. Tenho uma obra muito próxima desse local que pode ser verificada que está sobre pedras para segurar a sapata. Hoje já consigo ter a percepção de que determinadas obras aqui em Içara deveriam se ter um maior critério sobre o solo”, coloca o engenheiro José Dionísio Cardoso. Ainda segundo ele, uma das possibilidades de segurança seria realizar a análise do lençol freático para verificar, por exemplo, a interferência da atividade mineradora na cidade. Outra hipótese a ser investigada seria o despejo de material químico de empresas no esgoto e consequentemente no solo.