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Segurança | 27/01/2014 | 14:49

Um ano de superação por tragédia em boate

Especial de Daniela Soares, do Jornal da Manhã

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Era uma noite quente. José Antonio Tancredo rolava de um lado ao outro na cama, mas o sono insistia em desafiá-lo. O incômodo não era calor, mas algo que não conseguia explicar. Era uma espécie de angústia, uma preocupação injustificada. Para pregar os olhos por algumas horas naquela madrugada de 27 de janeiro, foi preciso recorrer a calmante.

A causa da pesada noite veio pela manhã. Através da esposa, Valdete, ele soube que o filho, Moisés, presenciara um incêndio em uma boate na cidade gaúcha de Santa Maria, onde mora a estudo. “Não me preocupei muito. Achei que era uma coisa qualquer; uma lâmpada estourada ou um curto circuito”, lembra.

Bastou ligar a televisão para o aposentado compreender a dimensão do ocorrido. “Quando eu liguei a primeira vez estavam falando em 13 mortos. Poucas horas depois já tinha subido para 25. Até me arrepio lembrando”, relata José. A medida em que as informações eram atualizadas, a família em Criciúma contentava a tristeza com notícias de Moisés. “Nós ficávamos em contato o tempo todo ao telefone”, conta.

Acadêmico de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Moisés, 24 anos, era assíduo frequentador da boate Kiss, o que contribuiu para um desfecho menos doloroso. “Ele era quase vizinho da casa, ele conhecia todas as saídas. Na hora do incêndio ele ajudou um amigo a sair e foi para o hospital fazer nebulização. Depois ele voltou à boate e ajudou outras pessoas. Algumas até hoje ligam para ele para agradecer”, descreve o pai.

Por pouco a tragédia não foi vivenciada pela içarense Bárbara Barbosa, acadêmica de Jornalismo e Relações Públicas da UFSM. Na quinta-feira anterior ao incêndio, ela esteve na boate e só não retornou no sábado por estar gripada. “Nada na cidade nos deixa esquecer o dia 27 de janeiro de 2013. Por falta de um monumento adequado, a frente da Kiss, por exemplo, virou uma enxurrada de cartazes com protestos, flores, fotos e saudades. Já no centro da cidade, foi providenciado um estande da associação dos familiares de vítimas e sobreviventes da tragédia, que presta apoio e também reivindica um desfecho justo ao acontecimento. Não precisa andar muito por aqui para relembrar”, descreve.

Bárbara teve a mesma percepção ao ir a uma casa noturna pela primeira vez após o ocorrido. “Vídeos eram apresentados ao longo da noite explicando onde estavam as saídas de emergência, extintores e como seria o processo caso houvesse incêndio. Iniciativa bem pensada, mas o clima ficou insustentável”. Para a jovem, a mesma dor que mobilizou a população poderá nutrir impulso a um novo despertar.

“Parece que algo diferente acontece por aqui; uma união, uma força inexplicável. É possível enxergar otimismo e esperança nos mesmos olhos carregados de lágrimas pela perda. O santa-mariense é diferente, tem carisma e sabe acolher como mãe. Sempre falei isso quando botei meus pés aqui, seis anos atrás. E de fato, tem muito sentido. A mesma dor que uniu tantas pessoas as tornou tão mais fortes. E assim, sem ser preciso esquecer, esse povo encontrou uma alternativa ao sofrimento: superação. Seguir adiante ainda é ser mais forte que o tempo e que a dor”, considera.